Uma Ode ao Odiado.

Trouxeram, inundado de remorso

Um caixão carregado de destroços

De um homem atrofiado, sem nome e identidade

Para ser enterrado na mais isolada montanha que a vista alcançasse.

Pelo caminho as flores murchavam e secavam

E caíam no chão tristes com a morte que lhes atingiu;

Junto das rosas, pastava um cavalo

Que numa tentativa pífia de viver, fugiu.

O ar se carregava com uma aura pútrida,

Que enojava os homens sujeitos a tal fardo.

O ar escurecia a medida que passavam

E pelos campos adentro o carregavam.

De maneira eventual, os aldeões apareceram

E questionaram de onde vinha aquele terrível cheiro,

Que afugentou os pássaros e poluiu as águas

Que usavam para a sede saciar.

Calmamente, mas sem pausar a caminhada

Os homens do caixão explicaram o marco de sua empreitada:

"Descansa aqui, mas sem nunca descansar

Um velho amargurado, que passou a vida procurando a quem amar.

Encontrou muitas a quem lhe agradassem, mas nenhuma por ele se agradou

E num ato de desespero criou o rancor.

Quando descobriram tua criação, motivados pela própria dor

Condenaram-no a viver perto do amor, mas nunca sentindo teu ardor

E assim, experimentar sozinho a dor que ele inventou."

Enojados por sua presença apodrecida, e aliviados por tua partida

Esqueceram os malefícios e cantando, brindaram tua morte:

"Uma ode ao odiado, subordinado da rejeição.

À morte, o odiado! E com ele, toda tua criação."

O que não sabiam eles, é que a alma não morre

E alimentando sua solidão, estava o morto

Agora, plenamente absorto,

Implorando para que lhe deixassem experimentar o gosto da compaixão.

João G F Cirilo
Enviado por João G F Cirilo em 13/10/2014
Código do texto: T4998005
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