Pai e Filhos
Ontem carregava vocês no colo
Hoje te vejo cultivando seu solo
Quando sorriem para mim, me consolo
Ontem eu brincava com seus brinquedos
Hoje me perguntam sobre seus medos
Quando sorriem para mim, meus dedos apertam os seus dedos
Ontem eu assistia seus desenhos animados
Hoje nossas conversas são sobre assuntos elevados
Quando sorriem para mim, as mágoas ficam no passado
Ontem eu os levava para a escola
Hoje vou assistir vocês jogando bola
Quando sorriem para mim, engulo uma lágrima que rola
Ontem eu velava o sono de vocês
Hoje isso não tem vez
Mas, a vida fez de nós, desde sempre, pai e filhos!
*Esse terceto não é novo. Mas, gosto dele. E não acredito em dia disso ou daquilo. As pessoas ficam pressionadas a comemorar uma data, qualquer que seja, quase que para cumprir tabela. O dia de tudo é todo dia. Nascemos e morremos a cada amanhecer e anoitecer, para, quase sempre repetir esse ato até que se cumpra o destino efetivo de se partir. Daí não adianta chorar. O importante é ter vivido tudo todo dia.
Lembrando o que li esses dias:
"Cumpriu sua sentença. Encontrou-se com o único mal irremediável, aquilo que é a marca do nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo o que é vivo, morre."
Ariano Suassuna
E se ele me permite, tudo que é vivo, morre. Mas, se morre com semente vai crescer nos pensamentos daqueles que viveram com que se foi. E vai viver tudo todo dia até o ciclo se completar!