Ainda somos macacos

Quando olho para as ruas

e o povo ainda se estranha;

ainda se mata sem vergonha;

Ainda somos macacos, irmão.

Macacos de um deus sem fé;

sem um propósito sequer;

Reza uma missa. Ajoelha na Sé.

É uma ladainha pra você fazer,

mas cadê o sangue da rua, cadê?

Ainda pedimos justiça. Sangramos.

Nosso sangue aparece aos poucos,

Nossas almas são vendidas. Vingamos.

Não vale a pena, mas o facão

e foice que já não volve a terra,

fazem valer a nossa revolução.

Dominamos o fogo, fizemos a roda.

Não enxergamos além da guerra;

Não saímos do lugar, não vê?

O ódio ainda nos move, você vê?

mesmo depois de tantas luas (que sorte!)

a clava ainda é nossa moda. É forte.

Esse rabo dentro das pernas

diz aí, selvagem: Você morde?

Ainda somos macacos, não vê?

Os macacos, fala: quem são?

E se quiser mudar o bordão:

Diga aí, civilização!