A PARÓDIA
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Estudos Literários
A crítica literária moderna reconhece em Don Quixote de La Mancha a maior paródia (grego, paróidía) de todos os tempos. Ao parodiar as peripécias do romance de cavalaria, Cervantes criticou a vaidade, a presunção do gênero e criou a nova linguagem da ficção. De caráter lúdico (divertido) ou ideológico e conteúdo crítico mais ou menos explícito, mas, sempre presente, a paródia é a recriação cômica ou imitação burlesca (cômica) de uma obra. Um dos livros do escritor Mário de Andrade, por exemplo, recebeu o título de A Escrava que não era Isaura, numa referência cômica ao romance de Bernardo Guimarães, A Escrava Isaura.
A paródia é, geralmente, confundida com a sátira, a paráfrase e a alusão. Entretanto, é possível estabelecer uma distinção entre esses gêneros:
A sátira , por exemplo, censura um texto preexistente, mas não o deforma. A paráfrase desenvolve, ou seja, reescreve um texto preexistente, sem censurá-lo, não imita. A alusão faz, somente, uma referência indireta a um texto preexistente.
Observe, a seguir, o fragmento do poema Canção do Exílio (à esquerda), e a paródia (fragmento) escrita pelo poeta Murilo Mendes:
Nossos céus têm mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores. |
Nossas flores são mais bonitas, Nossas frutas mais gostosas, Mas custam cem mil réis a dúzia. Aí quem me dera chupar uma carambola de verdade. |
Embora conserve o tema de Gonçalves Dias, Murilo Mendes corrompe e modifica o conteúdo, transformando a exaltação de Gonçalves em ironia-crítica, criando, assim, uma paródia. ®Sérgio.
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Ajudou na elaboração deste glossário: Affonso Romano de Sant’Anna: Paródia, Paráfrase & Cia. (2ª ed., 1985).
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