A BALADA
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O termo vem do Francês ballade, que por sua vez originou-se do Baixo Latim ballare, significando dançar. Como termo literário, ballade surgiu no século XIII, com o poeta Adam de La Hall. A balada envolve duas formas líricas convergentes e distintas que é preciso diferenciar.
A Balada Folclórica e de origem popular, e se desenvolveu em quase todos os países europeus. Essa universalidade permite considerá-la uma das mais primitivas expressões poéticas da Humanidade.
Porém, seu despontar histórico só começou na Idade Média, quando passou a significar uma canção, que se destinava à dança. Fazia-se acompanhar por instrumentos musicais, mas sem movimentos coreográficos. Era um cantar de caráter narrativo em torno de apenas um episódio melancólico, histórico, fantástico, ou sobrenatural. Desenvolve um processo dramático de pergunta-resposta, ou seja, um diálogo, para desenvolver a versão romanceada. O desenlace é adiado até próximo do fim. Tal estrutura torna esse tipo de balada um embrião do teatro.
Um bom exemplo da balada folclórica ou tradicional e uma das obras-primas do lirismo tradicional português é A Nau Catrineta, de Almeida Garrett. Considerada "Os Lusíadas" da poesia popular, segue as características fundamentais da balada tradicional: a redondilha maior, ou versos de sete sílabas (septissílabo), metro tipicamente popular. A composição encerra uma narrativa apoiada no diálogo entre o capitão e o demônio (gajeiro). Veja o fragmento que inicia a balada de Garret:
Lá vem a nau Catrineta
Que tem muito que contar!
Ouvide, agora, senhores,
Uma história de pasmar.
Passava mais de ano e dia
Que iam na volta do mar
Já não tinham que comer,
Já não tinham que manjar.
Deitaram sola de molho
Para o outro dia jantar;
Mas a sola era tão rija
Que a não puderam tragar.
A Balada Propriamente dita apresenta forma fixa e a princípio compunha-se de três estrofes de oito versos e o seguinte arranjo de rimas: ababbccb. Cada estrofe terminava pelos mesmos versos.
A partir do século XV, passou a compor-se 28 versos, distribuídos em três estrofes de oito versos, seguidos de um envoi de quatro versos, com o seguinte esquema de rima: ababacac. No envoi, as rimas são idênticas a segunda porção das estrofes, se organizavam assim: acac.
O envoi chamado em português de "ofertório" consiste de meia estrofe (quatro versos), que finaliza a balada.
Para exemplificar, a última estrofe e o ofertório (envoi) da “Balada do Solitário”, de Guilherme Almeida (mestre na arte de versificar):
De que serviu? Se elo por elo [a]
dessa paixão de alma pagã [b]
rompeste a golpes de cutelo, [a]
ó minha loira castelã? [b]
Hoje estou só, sozinho, e velo [a]
Por esse imenso corredor [c]
Que corre, corre paralelo [a]
ao teu, ao meu, ao nosso amor. [c]
A ti, Princesa, eu te revelo [a]
esta canção, que um trovador [c] <= (Ofertório)
virá cantar pelo castelo [a]
do teu, do meu, do nosso amor! [c]
A Balada do Canto Real é um poema composto de 60 versos, distribuídos em cinco estrofes de onze versos, finalizado por um envoi de cinco versos. A disposição das rimas é ababccddedE (a maiúscula E representando o estribilho), as demais estrofes acompanham o mesmo esquema. O envoi, tem o esquema ddedE.
A Balada na Literatura Brasileira tem sido pouco apreciada. Encontrou maior adesão entre os poetas parnasianos como Olavo Bilac, Goulart de Andrade, e outros, que a cultivaram segundo os modelos franceses. No Modernismo, foi empregada, obediente apenas na disposição geral, como vimos, por Guilherme de Almeida. Liberta do figurino francês, livre, por Manuel Bandeira (Balada das três Mulheres do Sabonte Araxá), Vinício de Morais e Drummond de Andrade; arbitrariamente, por Osvaldo de Andrade, Augusto Meyer e outros. ®Sérgio.
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Ajudaram neste estudo: Massaud Moisés - A Criação Poética; Cultrix, S. Paulo, 1977.
Assis Brasil, Vocabulário Técnico de Literatura; Ediouro, Rio de Janeiro, 1979.
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