RIMAS POBRES, RICAS E RARAS
__________________________________________
Estudos Literários
Eis algumas sugestões para suas rimas, além, é claro, de um bom dicionário de rimas:
RIMAS POBRES - Consideram-se "pobres" as rimas de palavras da mesma classe gramatical (substantivo / substantivo, verbo / verbo, etc.), ou quando as palavras finalizam em sons corriqueiros, triviais. Por exemplo:
1. As que se fazem com advérbios em [mente]: Alegremente - docemente -pobremente, etc.
2. As que se fazem com terminações:
● [ão] – coração, irmão;
● [eza] – beleza, natureza, tristeza;
● [or e dor] – amor, sonhador;
● [ando] - devastando, criando;
● [ado] – criado, amado;
● [oso] – saudoso, desejoso;
● [ar] - amar, sonhar, calar, etc.
As rimas pobres, por serem pobres não devem ser desdenhadas. Rimas do particípio passado, por exemplo, foram usadas por Camões (sossegado / repousado / deitado / nomeado) em seus sonetos. Ficaram tão bem que ninguém repara que são todas do particípio.
RIMAS RICAS - Quando rimam palavras raras que surpreendem pela novidade, ou pertencentes a classes gramaticais diversas:
● [brilha - maravilha];
● [saudade - nade];
● [assumes - vaga-lumes];
● [dele - aquele];
● [fibra - vibra], etc.
Belas, airosas, pálidas, altivas,
Como tu mesma, outras mulheres vejo:
São rainhas, e segue-as num cortejo
Extensa multidão de almas cativas.
(Vicente de Carvalho, Velho Tema, soneto III)
RIMAS RARAS - Diz-se que uma rima é rara quando obtidas com palavras para os quais só haja poucas rimas possíveis. É o caso, entre outros, de [cisne] que só há a rima [tisne]; para [estirpe], só a forma verbal [extirpe]. Eis um exemplo:
Um dia um cisne morrerá por certo:
quando chegar esse momento incerto,
no lago, onde talvez a água se tisne,
nem nade nunca ao lado de outro cisne! (Julio Salusse)
RIMAS PRECIOSAS - São as rimas artificiais, feitas, forjadas com palavras combinadas, tais como:
● [múmia com resume-a];
● [vence-a com sonolência];
● [pântanos com quebranta-nos];
● [águia com alague-a], etc.
Fernandes, no seu “Dicionário de Rimas da Língua Portuguesa” cita um curioso exemplo de preciosismo, que nos dá o poeta Arthur de Azevedo (muitos consideram o preciosismo de Arthur de péssimo gosto):
Mandou-me o senhor vigário
que lhe comprasse uma lâmpada
para alumiar a estampa da
Senhora do Rosário.
Para concluirmos, Augusto dos Anjos, numa desconcertante rima de [apodrece] com [s], é ler para crer:
Toma conta do corpo que apodrece...
E até os membros da família engulham,
Vendo as larvas malignas que se embrulham
No cadáver malsão, fazendo um s. ®Sérgio.
__________________________________________
Bibliografia: José Augusto, Dicionário de Rimas, pp. 9-19, Editora Record. / Massaud Moisés, A criação Poética, pp 433-445, Editora Cultrix.
Se você encontrar omissões e/ou erros (inclusive de português), relate-me. Só enriquecerá o trabalho.
Agradeço a leitura do texto e, antecipadamente, qualquer comentário. Volte Sempre!