Pecados Capitais do Escritor

1. COPIAR ESTILOS ALHEIOS

Uma coisa é influência, outra é cópia. O resultado da cópia de estilos diversos é uma produção irregular e por vezes contraditória, em lugar de um estilo próprio. Não defendo com isso que se produza sempre mais do mesmo, como quer a ganância (para não dizer conservadorismo) dos editores, mas que se escreva com espontaneidade. Se não sentimos aquilo que escrevemos, dificilmente conseguiremos tocar o leitor.

2. MELODRAMA

Tendência de autores pretensamente românticos. Dramaticidade não é sinônimo de boa escrita, ou mesmo de sensibilidade. Emoções podem ser simuladas, nem sempre de forma convincente.

3. MAR DE LAMA

Tendência de autores pretensamente realistas. Retratar a realidade nua e crua é contemplar aspectos tanto negativos como positivos. O verdadeiro realismo está entre o pessimismo e o otimismo, assim como a Terra está entre o Inferno e o Céu.

4. ESTEREOTIPAR

Personagens unidimensionais tornam a criação igualmente unidimensional, sem profundidade, sem atrativos, sem vida, artificial — a menos que o objetivo seja justamente a crítica social a pessoas que na opinião do autor são de fato estereótipos.

5. ACHAR-SE UM ESPELHO

Nada mais fácil que enganar a si mesmo. O que julgamos simples reflexo alheio na maioria das vezes não passa de projeção nossa — metaforicamente, uma tentativa de descartar nosso lixo no quintal do vizinho. É no mínimo arrogância julgarmos ter a clareza de enxergar por trás de nossos próprios recalques e preconceitos os mais profundos desejos e medos alheios. Nem psicanalistas têm esse poder, ou pelo menos não antes de muita prática na área e contato com a pessoa analisada, até por serem humanos como nós, passíveis de julgamentos precipitados e enganos, não um objeto frio e imparcial como um espelho — que, diga-se de passagem, inverte e por vezes até distorce.

6. EXPLICITAR OPINIÃO EM TEXTOS DE FICÇÃO

Bons escritores se expressam com sutileza, bem como atenção a duplos sentidos, simbolismos, paralelismos e possíveis associações. Mostrar causa mais impacto que contar, principalmente a moral da história. Consumidores de ficção querem ser encantados, instigados ou até alienados, não educados feito crianças.

7. MEDO DE CAIR NA VULGARIDADE OU PIEGUICE

Escritores experientes sabem enveredar com segurança por esses e outros caminhos “controversos”, nem que seja com o intuito (moralista e/ou hipócrita) de provocar choque ou desdém no momento oportuno. Deve-se, contudo, prevenir-se contra interpretações equivocadas. Em caso de dúvida, o ideal é pedir uma ou mais leituras de prova.

São pecados que tento evitar, não necessariamente com sucesso.

Impressões?

Marcelo França
Enviado por Marcelo França em 30/04/2016
Reeditado em 07/10/2016
Código do texto: T5621072
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2016. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.