O Que é Literatura

Muitos autores vêm discutindo ao longo da história o verdadeiro conceito da palavra literatura. No seu livro O Que é Literatura (1995, p.10, 14), a estudiosa literária Marisa Lajolo indaga o leitor, sobre esse tema: “Por que não incluir num conceito amplo e aberto de literatura as linhas que cada um rabisca em momentos especiais? Ou aquele conto que alguém escreveu e está guardado na gaveta?” Já o poeta José Paulo Paes, em um de seus poemas, afirma de maneira subjetiva que poesia é brincar com as palavras como se brinca com bola, papagaio, pião. O escritor João Cabral de Melo Neto compara escrever com a prática de catar feijão e o filósofo Aristóteles disse que a literatura conta não o que aconteceu e sim as coisas que poderiam vir a acontecer possivelmente tanto da perspectiva da verossimilhança como da necessidade.

A verdade é que não há um único conceito para a literatura, embora exista um recurso denominado literariedade que tem a função de dizer se um texto é ou não literário. Mas será que existe alguma regra específica que torna um texto literário? No mundo acadêmico e de acordo com o recurso citado, para um escrito ser considerado literário, além do seu valor interno (o conteúdo), ele deve conter um excelente valor externo (nome do autor, da editora, grupo cultural, etc.), porém, alguns estudiosos discordam disso.

Em seu livro Direito a Literatura, o escritor Antônio Cândido destaca: “Chamarei de literatura, da maneira mais ampla possível, todas as criações de toque poético, ficcional ou dramático em todos os tipos de cultura, desde o que chamamos folclore, lenda, chiste, até as formas mais complexas e difíceis de escrita das civilizações.” Ou seja, literatura é a arte de escrever, de criar, logo qualquer trabalho que envolva tais elementos faz parte da mesma.

Para uma obra ser consagrada como literária existe um conjunto de regras, como a linguagem, por exemplo. Contudo, o nome do autor, seu currículo, o mercado cultural, no qual o mesmo está inserido, contam bastante na análise da crítica literária, muitas vezes responsável por encontrar em uma determinada, obra a literariedade. Tudo isso, contribui para tornar ainda mais polêmica à questão de definir literatura. Mas vindo a literariedade de fatores externos, não seria isso um preconceito, e não estaria excluindo outros artistas, que por não corresponderem a esses requisitos, ou até mesmo por estarem inseridos em um contexto social diferente, não possuem seus trabalhos reconhecidos no mundo das letras?

Ao compararmos uma carta de um leitor, enviada a uma revista, com um poema de um dos maiores poetas brasileiros, Manuel Bandeira, veremos que existem dois textos literários, embora somente um seja visto como artístico. Eis um trecho da citada carta: “Na cantina habitual, o sorriso da funcionária não afastou meu desconforto. De repente desabei num choro convulsivo.” Observamos uma narração pessoal, repleta de emoção. Já no poema de Bandeira (“Teresa, você é a coisa mais bonita que eu já vi até hoje na minha vida, inclusive o porquinho-da-índia que me deram quando eu tinha seis anos.”), verificamos uma função poética, um dos elementos da arte de produzir textos. A comparação subjetiva que o autor faz entre a mulher bonita e um porquinho-da-índia, também dar literariedade ao poema.

Todavia, a carta que se trata de um relato pessoal, também é literatura, embora o autor não seja um escritor, ou não conheça nada a respeito de literatura. Eis aí o dilema em questão. Tudo isso explica as discussões em torno da descoberta da definição dessa arte que já foi tida até como ciência.

Apesar de ainda não existir um conceito definido para literatura, podemos dizer que ela consiste em tudo que vem da alma e pousa no papel, com o objetivo de emocionar alguém, de tocar seu coração e mexer com suas emoções. Literatura é tudo que é escrito com a finalidade de tornar as coisas difíceis mais fáceis, o feio mais bonito e o triste mais alegre. Literatura são, sobretudo, os mais lindos poemas e as mais lindas e comoventes criações que saem do nosso coração para o eu do leitor.