Oficina Literária - O Cortiço - breve análise

Trabalho de Oficina Literária sem grandes pretensões....

Leiturinha leve espero que gostem...

Um grande abraço, aos leitores!

“O CORTIÇO” - INTRODUÇÃO

O livro “O Cortiço”, é uma tese determinista de Aluisio de Azevedo, que expressa a suscetibilidade e fragilidade do homem diante de certos fatores, como o seu meio social, sua raça, sua época. Trata-se da obra-prima do Naturalismo brasileiro.

O Realismo foi o movimento literário que se iniciou na Europa na segunda metade do século XIX, mais especificamente com a publicação do romance Madame Bovary, de Gustave Flaubert. Fazendo oposição ao idealismo do movimento romântico, os realistas concebiam os fatos de uma forma mais objetiva e fiel à vida real. O romance toma nova importância: mostrar a realidade, diagnosticar os desvios de caráter da sociedade, apontar a corrupção e destacar a problemática das causas e efeitos do comportamento dos indivíduos em relação ao ambiente em que vivem, e a forma como vivem.

O Naturalismo surgiu na mesma época, idealizado pelo francês Émile Zola, e foi a radicalização do Realismo, com o objetivo de comprovar com os fatos vividos e as ações dos personagens, o ponto de vista das ciências naturais, de que o indivíduo é determinado pelo ambiente e pela hereditariedade. Conforme um comentário de Alfredo Bosi, “- o Realismo de tingirá de Naturalismo todas as vezes em que personagens e enredos se submetam ao destino cego traçado pelas leis naturais que a ciência da época julgava ter decodificado.”

Dentro do contexto histórico, algumas teorias além de marcar a época, influenciaram o surgimento e a constituição dos ideias realistas/ naturalistas. Dentre elas destacam-se o Positivismo, o Darwinismo e o Determinismo.

Positivismo – teoria segundo a qual apenas por meio da experiência se chega à verdade. Tese que defendia que a análise social deveria se basear nos métodos positivos adotados por outras ciências: a observação, a comparação, e a experimentação.

Darwinismo - como ficou conhecida a teoria da seleção natural, segundo a qual, apenas os mais aptos e fortes de cada espécie conseguiriam sobreviver. Para o Realismo/Naturalismo, a consequência dessa corrente filosófica é a visão do homem como um animal, que como outros animais evoluiu, em detrimento da visão espiritualizada do homem no Romantismo.

Determinismo - teoria segundo a qual o homem é condicionado pelos fenômenos que vivenciou, passando a ser deles consequência. Assim, fatores como o meio social e a herança genética explicam suas decisões e comportamentos.

Essas referências serão usadas como parâmetros em nosso estudo do texto do livro de Aluisio Azevedo.

O Romance e seus Elementos Básicos

Breve Análise do Livro

O Cortiço, é apresentado sob a forma de uma narrativa, e é um romance que tem como característica principal, aproveitar a individualidade de cada personagem para compor um objetivo maior, que é retratar a sociedade como um organismo vivo que está em constante evolução - influencia positivista-evolucionista - que foi cuidadosamente construída ao longo de todo o texto. Sendo assim, desde o primeiro ao último parágrafo, acompanhamos a evolução do cortiço, que mesmo sendo uma moradia coletiva acaba se comportando dentro da estória como um só personagem.

O português João Romão, personagem idealizador e proprietário do cortiço, representa em si mesmo, os assuntos que são abordados nas obras naturalistas que são a miséria, a ambição que beira a loucura e a exploração social do próximo. Ele tem como objetivo principal de vida enriquecer a qualquer custo e vai ao extremo da avareza, não medindo esforços, sacrificando até a própria dignidade, pois, veste-se mal, dorme no mesmo balcão em que trabalha, é capaz de comer os restos de seus produtos enquanto vende o que há de melhor aos seus clientes. Explora sem escrúpulos a quem quer que seja, sendo esse o ponto mais marcante do seu caráter. É possível relacionar esse contexto como uma crítica ao modo de vida do capitalismo selvagem, recém- identificado na época.

O eixo da estória da origem do cortiço é a relação estabelecida entre esse personagem - o português João Romão - dono de uma venda conquistada à muito esforço e sacrifício em anos de trabalhos pesados, e a negra Bertoleza, quitandeira sua vizinha, que apesar de escrava é uma mulher trabalhadora e bem sucedida em seus negócios, tanto que o texto relata que “a sua quitanda era a mais bem afreguesada do bairro”.

João Romão aproveita-se da ingenuidade e ignorância da negra, que por sua vez, se vê inclinada em estabelecer uma relação com um homem branco, pois, segundo as teses deterministas da época, “procurava instintivamente no homem, uma raça superior à sua” . Com essa união de interesses de ambas as partes estabelecida, criam-se as condições necessárias para o desenvolvimento do jogo de poder e submissão, onde o mais forte domina e aniquila o mais fraco, pois o português não só aproveita-se de Bertoleza como mulher, como também apodera-se de seus negócios, de suas economias, de toda a sua vida, e faz dela nada mais que uma escrava que trabalha voluntariamente e sem descanso para enriquecer cada dia mais e mais o amante.

O aparecimento do cortiço se dá com a construção de três casinhas, levantadas à custa de muito material roubado e da própria mão de obra dos dois personagens, e tem-se a impressão de que o autor tenha deixado implícita a ideia de que o cortiço simbolizasse o próprio fruto da união dos dois, como se fosse o nascimento de um filho; o cortiço cresce como cresceria uma criança, ou seja, naturalmente - em um espaço de dois anos já possui 95 casas.

Mais uma vez o que justifica esse crescimento extraordinário e rápido é a tese naturalista/determinista: as condições do meio - água à vontade e muito espaço para estender a roupa, e a própria venda de João Romão que tratava de suprir todas as necessidades imediatas daquela comunidade - basicamente formada de gente pobre, as lavadeiras de roupas - que permitiriam que a moradia coletiva se desenvolvesse. Quanto à maneira como Aluísio Azevedo narra a origem e o estágio inicial do cortiço e como são descritos os moradores em sua agitação, semelhantes a “larvas multiplicando-se num monte de esterco”, é , segundo críticos, “ o modo descritivo tradicional a essa escola literária, rebaixadora ou mesmo aniquiladora da dignidade humana, ao comparar degradantemente suas personagens a animais, num processo conhecido como zoormorfismo.” O autor vale-se desse tipo de recurso várias vezes ao longo do livro.

Outro eixo importante é o relacionamento entre João Romão e seu vizinho, o Miranda, negociante de uma loja de fazendas, também português, e sua família. Entre os dois ocorre uma relação recíproca de inveja; o burguês a admirar o modo como o vizinho fez uma fortuna três vezes maior que a sua sem precisar sujeitar-se a um casamento de conveniências como foi o seu caso – e o vendeiro a admirar a posição social e toda a vida do outro, que chega ao ápice quando o Miranda vem a conquistar um título de Barão.

Aluísio Azevedo retrata a partir destes pontos os moradores do cortiço, que vão formar um conjunto de tipos extremamente detalhados e diferenciados em suas personalidades, cada um deles tipificando um representante de sua classe social, ao mesmo tempo que parece fundir-se com o ambiente coletivo que torna-se pouco a pouco como uma coisa só, um ser vivo.

O Enredo

Sendo o texto concebido em forma de uma narrativa, a trama central do romance é a representação do cortiço como símbolo do meio social que corrompe o homem, ou a tentativa de provar que o ambiente degradante tem mais força do que o caráter ou a vontade individual dos personagens.

As personagens

Destacam-se do elenco de personagens de um romance, o narrador e o narratário. Num romance também, geralmente detectamos uma personagem principal, o que não nos parece tarefa fácil no caso de “O Cortiço”, pois competindo com os principais protagonistas do romance encontra-se o próprio cortiço, elevado à categoria de personagem que nasce, cresce, evolui e tem até mesmo seu status social elevado à categoria de “avenida” no final da estória.

“E, como a casa comercial de João Romão, prosperava igualmente a sua avenida.” ... “O cortiço aristocratizava-se.” (cap. XXII, pág.213)

Sendo assim faremos um breve resumo dos principais personagens e sua evolução no decorrer do texto.

1) João Romão – de empregado a empresário bem sucedido; de taverneiro iletrado e rude a futuro Visconde e dono de casa comercial; de senhor de um cortiço a proprietário de uma avenida de casas; de amante da escrava Bertoleza a futuro marido da filha do Miranda.

2)Bertoleza – sucumbe e morre, dominada e aniquilada pelo mais forte João Romão.

3)Miranda – de negociante próspero a Barão, porém sucumbe aos caprichos da esposa Estela.

4)Estela – domina o marido pelo poder do dinheiro e posição social, e como mulher, pelo poder da sedução.

5) A mulata Rita Baiana – mulher brasileira e sensual que pretere o amante seu igual para seduzir e ficar com o português Jerônimo.

6) O capoeira Firmo – malandro carioca, que sucumbe ao poder de sedução da Rita e é morto pelo português Jerônimo – lei em que o mais forte prevalece.

7) O português Jerônimo – homem trabalhador e chefe de família que todavia ao chegar ao cortiço, sofre influencia do meio e se corrompe, abandona a família, foge com a amante e se entrega aos vícios.

8) A jovem Pombinha - menina estudada e pura que é um exemplo para os moradores do cortiço, no entanto é corrompida pelo meio em que vive, e ao final da estória torna-se uma prostituta;

9) O grupo das lavadeiras – mulheres que trabalham duro para sobreviver, ao final da estória já não conseguem acompanhar o progresso da avenida de casas e mudam-se para o cortiço vizinho – “ Cabeça de Gato”.

10) A bruxa – negra feiticeira a quem recorriam os moradores do cortiço em suas necessidades, morre ao final da estória, como alguns outros personagens que representam aqueles que foram excluídos pela pobreza e fatalidades decorridas ao longo da trama.

11) Leonie e sua afilhada Juju – prostitutas que frequentam o cortiço, e dominam sobre os homens ricos da classe abastada da cidade, mas fazem questão de frequentar o cortiço em busca de jovens que possam corromper, como foi o caso de Pombinha.

10) Piedade e sua filha – mulher e dona de casa exemplar que após ser abandonada pelo marido no cortiço, que entrega-se a uma vida de vícios e degradação moral.

11) O cortiço ¨Cabeça de Gato” – representação do ambiente ainda mais pobre que o anterior, pois quando o cortiço “Estalagem São Romão” se aristocratiza, os moradores mais pobres mudam-se para o “Cabeça de Gato”, dando a entender a continuidade da situação de miséria.

CONCLUSÃO

O que pode ser valorizado em “O Cortiço” é a riqueza de detalhes apresentada em todo o decorrer da estória, retratando os aspectos e costumes da sociedade da época. Os personagens muito bem definidos, contudo não representam uma realidade conclusiva, pois apesar de “O Cortiço” ser perfeito na apresentação da tese determinista, nada há que embase esta teoria na vida real, muito pelo contrário, o tempo tem comprovado que o homem pode sim ser influenciado pelo meio em que vive, mas não dominado por ele, e que suas decisões são fruto de suas escolhas e não de circunstâncias externas alheias à sua vontade.

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LETICIA RACHEL FERNANDES DA SILVA

ESTUDANTE DE LETRAS -

UNIVERSIDADE ESTACIO DE SÁ

Miss Jade
Enviado por Miss Jade em 18/01/2014
Código do texto: T4654598
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