O DISCURSO DIRETO E INOVAÇÕES
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Tipos de Discursos
O termo discurso é usado em teoria literária com o sentido de fala ou pensamento. Assim, o discurso de um personagem é o seu ato de falar ou pensar.
Nas narrativas de ficção é o recurso dramático por excelência. Portanto, seria inimaginável um conto, uma novela, um romance sem ele. No teatro, o diálogo (termo mais aplicável), assume papel tão relevante, que sem ele seria praticamente impossível à encenação da maioria das peças teatrais.
Do ponto de vista estrutural, o discurso se classifica em:
1 - Discurso Direto;
2 - Discurso Indireto; (clique no link)
3 - Discurso Indireto livre; (clique no link)
4 - Monólogo interior; (clique no link)
5 - Solilóquio. (clique no link)
Às vezes, o narrador pode servir-se de uma fusão dos discursos direto e indireto.
1 - O DISCURSO DIRETO
O Discurso será direto quando temos, em um texto narrativo, a reprodução direta (literal) da fala das personagens. Em outras palavras, o narrador não nos diz o que a personagem falou; ele interrompe sua narrativa para ceder a palavra à personagem para que ela mesma fale.
O discurso direto, geralmente, se caracteriza com o narrador explicando quem vai falar (a frase termina por dois pontos). Abre-se então um novo parágrafo para nele colocar um travessão, seguido da fala da personagem:
João Romão parou à entrada da oficina e gritou para um dos ferreiros:
— Ó Bruno! Não se esqueça do varal da lanterna do portão! (O Cortiço)
Observe, no exemplo acima, que o narrador interrompe a narrativa para introduzir (ceder), em novo parágrafo, as palavras (fala) do personagem. Temos, então, um discurso ou diálogo direto.
Normalmente o narrador introduz a fala das personagens por meio de verbos chamados dicendi, de elocução ou declarativos: dizer, afirmar, responder, declarar, perguntar, indagar, questionar, interrogar, seguido de dois-pontos:
Paulo, irritado comentou:
— Agora é o carro que não funciona.
Os verbos sentiendi: gemer, suspirar, lamentar, queixar-se, que expressam estado de espírito, reação psicológica, emoções, também podem introduzir as falas das personagens:
O Aluno queixou-se:
— Só poderei sair do meu quarto amanhã.
Os verbos dicendi e sentiendi não só podem abrir (preceder) o diálogo, como também encerrá-lo, ou intercalar-se, e podem ser pontuados de acordo com a sua posição. Veja:
O alfinete disse à agulha:
— Faze como eu, que não abro caminho para ninguém¹ (antes da fala separa-se por dois pontos).
Faze como eu, que não abro caminho para ninguém – (,) disse o alfinete à agulha (depois da fala separa-se por travessão ou vírgula).
Faze como eu - (,) disse o alfinete à agulha (,) – que não abro caminho para ninguém (no meio da fala separa-se por travessão ou vírgula)
Observação: Não havendo diálogo, a reprodução da fala da personagem pode ser feita por aspas, sem a necessidade do travessão inicial. Como mostra os dois últimos exemplos acima. A frase depois da fala e intercalada é iniciada por letra minúscula.
Os verbos dicendi, sentiendi, ou qualquer verbo que introduza ou apresente a fala da personagem, o travessão, os dois-pontos e as aspas são as marcas do discurso direto.
As Inovações
Alguns autores modernos aboliram o emprego dos verbos dicendi (porque as falas são breves) em favor de um ritmo mais veloz da narrativa:
O pai bateu-lhe amistosamente no braço:
— Está bem, meu filho. Vai.
Na busca de maior expressividade, escritores modernos, como José Saramago, utilizam estruturas inovadoras e criativas para reproduzir os diálogos da narrativa. Em O Ano da Morte de Ricardo Reis, ele utiliza parágrafos de aproximadamente uma página, com textos ininterruptos e diálogos inseridos em meio à narração sem o recurso dos dois pontos, do travessão ou das aspas:
[...] pela expressão da cara não parece ser causado desgosto ter caído São Sebastian, Ela diz, Desculpe, senhor doutor, não tenho podido vir [...]. Não por isso, pensei que [...], Sentia-me cansada desta vida, [...]
Semelhante processo é utilizado pelo brasileiro Rubens Fonseca no conto A Matéria do Sonho. As histórias em quadrinhos também empregam, em balões, o discurso direto.
Para exemplificar a importância do discurso direto, recorro ao conceito de Celso Cunha, em A Nova Gramática do Português Contemporâneo:
“No plano expressivo, a força da narração em discurso direto provém essencialmente de sua capacidade de atualizar o episódio, fazendo emergir da situação a personagem, tomando-a viva para o ouvinte, à maneira de uma cena teatral, em que o narrador desempenha a mera função de indicador das falas.” ®Sérgio.
Tópico Relacionado: Do Discurso Direto ao Indireto e Vice-Versa.
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1 -Fragmento de Um Apólogo, Machado de Assis. In, Para Gostar de Ler - Volume 9 - Contos, Editora Ática - São Paulo, 1984, p. 59.
Informações foram recolhidas e adaptadas ao texto de: Branca Granatic, Técnicas de Redação; e de Rocha Lima, Gramática Normativa da Língua Portuguesa.
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