O DISCURSO INDIRETO E O INDIRETO LIVRE
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Tipos de Discursos
1. O DISCURSO INDIRETO
• O discurso ou diálogo indireto ocorre quando o narrador utiliza suas próprias palavras para reproduzir a fala de um personagem. Em outras palavras, o narrador é que passa a ser o portador das falas e dos pensamentos das personagens. Por essa razão dizemos, dizemos que esse tipo de discurso ocorre de maneira indireta:
Quando lhe disseram que os sábios desprezam os bens desse mundo, ele perguntou lá do fundo da sala pelo rei Salomão.
Uma senhora interessando-se pela ave, indagou qual era o preço.
Se o discurso fosse direto, ficaria assim:
Quando lhe disseram que os sábios desprezam os bens desse mundo, ele perguntou lá do fundo da sala: — E o rei Salomão.
Uma senhora interessando-se pela ave, indagou:
— Qual é o preço?
• Observa-se, nos exemplos, que a fala das personagens (trechos grifados) foi reproduzida pelo narrador, na 3ª pessoa do singular (ele, ela). Sempre que isso ocorrer, ou seja, a fala da personagem ser reproduzida na 3ª pessoa do singular ou do plural, o discurso será indireto. Observa-se também, que a fala não vem precedida de travessão, nem está entre aspas, mas está inserida no discurso do narrador.
• Ainda nos trechos grifados, a fala é aberta com: ele perguntou...; (ela) indagou...; daí, dizer-se que no discurso indireto as falas abrem-se, geralmente, com o sujeito + o verbo de elocução ou dicendi (perguntou, indagou), seguido da fala da personagem, que completa o significado do verbo. Observe este outro exemplo:
Carlota, que estava ao meu lado, observou que, afinal, eu não tinha motivo para deixar de atender ao pedido de Mère Blandine [...]. (Ciro dos Anjos).
Observação: Se você ainda não sabe o que é um verbo dicendi ou de elocução, clique neste link: O Discurso Direto.
2. O DISCURSO INDIRETO LIVRE
• O discurso indireto livre é um tipo de discurso misto, em que se associam as características do discurso direto e do indireto.
• Dos três tipos de discursos, esse é o mais complicado. O que ocorre, nesse caso, é que a fala interior da personagem (as emoções, as ideias, os sentimentos, as reflexões) insere-se na em meio à fala do narrador de forma sutil, causando certa confusão em relação a quem está se pronunciando (ele ou a personagem). Portanto, na maioria dos casos, desaparecem os verbos de elocução, travessão, dois pontos, enfim, os sinais de pontuação. Além disso, esse tipo de discurso é mais frequente com o foco narrativo na 3ª pessoa:
Como nas noites precedentes, uma fila de agricultores se formou na porta de uma padaria e o padeiro saiu a informar que não havia pão. Por quê? Onde estava o pão? O padeiro respondeu que não havia farinha. Onde então estava ela? Os agricultores invadiram a padaria invadiram a padaria e levaram o estoque de roscas e biscoitos, a manteiga e o chocolate. (Garcia de Paiva. Os agricultores arrancam paralelepípedos.)
• No fragmento apresentado o autor reproduz a conversa entre um grupo de agricultores e um padeiro. Nas duas falas do padeiro temos o discurso indireto (... o padeiro saiu a informar que não havia pão. / O padeiro respondeu que não havia farinha.). Quando o narrador reproduz a fala dos agricultores, o faz da mesma forma com o qual eles se expressaram; o que constitui uma característica do discurso direto. Neste caso, tanto o discurso indireto, quanto o direto, não utilizam a pontuação tradicional do discurso. Mas há o emprego do verbo de elocução ou discendi (informar e respondeu).
• Temos, assim, uma estrutura de diálogo, em que se misturam formas do discurso direto e do indireto, criando consequentemente um modo de escrita intermediária entre eles: o discurso indireto livre. Eis outro exemplo:
Sinhá Vitória desejava possuir uma cama igual à de seu Tomás da bolandeira. Doidice. Não dizia nada para não contrariá-la, mas sabia que era doidice. Cambembes podiam ter luxo? E estavam ali de passagem. Qualquer dia o patrão os botaria fora, e eles ganhariam o mundo, sem rumo, nem teriam meio de conduzir os cacarecos. (Graciliano Ramos. Vidas Secas.)
• Nesse fragmento, o narrador nos fala do que estava pensando o personagem Fabiano a respeito do sonho de sua mulher a Sinhá Vitória. Mas, como a narrativa não vem marcada pelo verbo de elocução, nem pelos dois pontos e travessão, a fala do narrador, em certos trechos, confunde-se com a de Fabiano. ®Sérgio.
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Informações foram recolhidas e adaptadas ao texto de: Branca Granatic, Técnicas de Redação; e de Rocha Lima, Gramática Normativa da Língua Portuguesa.
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