TIPOS DE CONTOS
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Estudos Literários
“[...] em verdade, sempre será conto aquilo que seu autor batizou com o nome de conto...” (Mário de Andrade, in Contos e Contistas)
Vou usar para a classificação dos contos, a sugestão de "Carl H. Grabo, in The Art of the Short-story, pp. 128/210". Mas é preciso atentar para o fato de que o conto após ter adquirido identidade própria, vem se manifestando das mais diversas maneiras, de modo que dificilmente são fiéis a uma classificação fixa, devido, justamente, a essa liberdade que os autores têm de imprimir novas características a cada conto que produzem. Além disso, não existem, mesmo dentro de qualquer classificação, contos puros. Todo o conto apresenta múltiplas características, porém com predominância de uma que lhe dá sua localização em determinada categoria:
O Conto Fantástico (clique no link)
O conto de Ação – é o tipo mais comum; começou com As mil e uma Noites e nos dias atuais os contos policiais e de mistério lhe dão continuidade. A predominância da aventura nesse tipo de conto não significa a ausência das demais. Existem, sem dúvida, mas em grau de inferioridade em relação à ação.
O Conto de Personagens (menos comum) – o objetivo deste conto é retratar uma personagem. Mesmo que constitua o objetivo principal do contista, esta nunca atingirá o grau de plenitude, específico do romance. Se o contista volta sua atenção ao exame da personagem, levará, sempre, em conta a conjectura própria do conto, ou seja, o fará dentro dos limites próprios à narrativa curta, isto é, sintetizada.
Na Literatura Brasileira, Clarice Lispector, levou o conto de personagem à perfeição com sua obra prima, Feliz Aniversário: A narrativa se constrói em torno da celebração do aniversário duma anciã de 89 anos: ela tão somente constitui o centro de tudo. As referências rápidas aos demais familiares apenas colaboram para formar a atmosfera onde o episódio máximo da existência da velinha vai ter lugar. E de repente, com breves palavras a contista ergue a presença viva da personagem diante de nós:
"E para adiantar o expediente, vestira a aniversariante logo depois do almoço. Pusera-lhe desde então a presilha em torno do pescoço e o broche, borrifara-lhe um pouco de água-de-colônia para disfarçar aquele seu cheiro de guardado – sentara-a à mesa. E desde as duas horas a aniversariante estava sentada à cabeceira da longa mesa vazia, tesa na sala silenciosa..."
Daí por diante, a ficcionista só faz retocar a figura, acrescentando-lhe minúcias que enriquecem o esboço inicial, pois o seu “close-up” nos é ofertado as primeiras pinceladas.
“Os músculos do rosto da aniversariante não a interpretavam mais, de modo que ninguém podia saber se ela estava alegre. Estava era posta à cabeceira. Tratava-se de uma velha grande, magras, imponente e morena. Parecia oca.”
E assim até o fim.
O Conto de Cenário ou Atmosfera (raro) - nele predominam o cenário e o ambiente sobre o enredo e os protagonistas. Na Literatura Brasileira temos como exemplo o conto de Assombramento, que abre o volume Pelo Sertão, de Afonso Arinos. É uma extensa narrativa em torno de um mal-entendido. Dizia-se que uma casa abandonada era assombrada e que a assombração tinha hora certa para se anunciar. Até que uns destemidos vaqueiros resolvem desvendar o mistério, e descobrem que a tal assombração era tão somente o vento batendo estridente e sinistramente nas velharias da casa mal-assombrada.
Esse conto é classificado como de ambiente e atmosfera pelo fato de se organizar em torno dos objetos e pormenores que vão sendo desvendados à medida que os vaqueiros penetram na escuridão da casa assombrada. Mas a assombração não existe na cabeça dos personagens? Sim, existe; mas o contista desvia o eixo narrativo para a causa material do medo que tomava conta dos vaqueiros em meio às trevas, passando a tônica dramática para o ambiente, o leitor, por sua vez, experimenta o mesmo sentimento das personagens, à medida, que também adentra a casa abandonada. Por isso, há, neste conto, uma associação com o conto de emoção.
O Conto de Ideia - veículo de doutrinas filosóficas, estéticas, políticas, etc., é mais utilizado e freqüente que o de ambiente e atmosfera. Teve no século XVIII, seu apogeu; época em que se escreveram inúmeras narrativas de caráter moralista, em torno de uma idéia. Voltaire foi seu maior representante, mestre no gênero.
Nele o contista oferece ao leitor uma síntese, generalizada, das observações que a vida lhe permitiu fazer acerca dos homens e do mundo. O material de que se serve é o usual: personagens, história, ambiente, etc. Porém o objetivo é utilizá-los como instrumento para transmitir o que pretende: a idéia que está identificada com a ação e os personagens, isto é, em vez de escrever para a idéia, o ficcionista escreve um conto e nele embute a idéia. Em caso contrário, o conto se transformaria em um mero veículo de idéias preconcebidas, ou em panfleto. O Alienista, de Machado de Assis, parece enquadrar-se perfeitamente nesse tipo de conto. Nele Machado pretende nos mostrar como sabemos pouco da espécie humana: quem é lúcido? Quem não é? Onde a verdade?
O Conto de Efeitos Emocionais - visa simular uma sensação no leitor, de terror, de pânico, de surpresa, etc., como nas histórias de Hoffmann, Poe e outros. Freqüentemente vem mesclado com o conto de idéia. Personagens, ação, ambiente, tudo nele converge para o objetivo principal, que é despertar uma emoção em quem lê. Apropriado à comunicação dos climas de mistério ou de medo. ®Sérgio.
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Informações foram retiradas e adaptadas ao texto das seguintes obras:
BOSI, Alfredo – História Concisa da Literatura Brasileira, 3ªed., São Paulo (s.d.), Cultrix.
Massaud Moisés - A Criação Literária.
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