Um apanhado de tercetos
Estimo que os tercetos mais conhecidos são os Haicai e os Poetrix, cada um com suas caraterísticas específicas e admiradores apaixonados.
O número de seguidores desses gêneros tem crescido, em muito, entre os poetas brasileiros.
Com o advento da internet eles ganharam uma força extra, dada à sua objetividade e concisão. Quanto mais os leio, mais me encanto com o que me dizem. Pensava que já havia visto tudo sobre esses poemas, mas eis que me deparei com o último livro do genial poeta mato-grossense Manoel de Barros – Escritos em Verbal de Ave.
O que me chama a atenção nos escritos de Manoel de Barros é a forma como ele escreve. Seus poemas não são Haicai e nem tão pouco Poetrix.
Vejamos alguns exemplos:
1 - amo
a nobreza
do chão!
Para mim, este terceto é uma frase que foi dividida em três versos. Não é um Haicai porque não obedece a nenhuma das caraterísticas desses tercetos, sequer, as 17 sílabas tônicas são respeitadas. Também não é um Poetrix, visto que nem ao menos possui o título, muito embora tenha uma concisão exuberante.
2 - privilégio dos ventos:
semear
as borboletas!
Aqui existe uma semelhança com o Haicai. Se observamos bem, notamos que há uma divisão de partes entre o primeiro verso e os demais.
É importante observar que “semear/as borboletas!” constitui uma única frase que foi dividida em dois versos, caracterizando um terceto.
Poderíamos dizer que se trata de um Poetrix, mas, para isto, seria preciso que houvesse pelo menos um título.
3 - desenho da voz
na areia
é verbal de ave
Aqui vejo o ponto chave dos escritos de Manoel de Barros. Se não é Haicai nem Poetrix, o quê é?!
No meu entender é o que ele chamou de Verbal de Ave. Uma escrita aparentemente ingênua, porém, reflexiva e convidativa ao mesmo tempo. Algo que nos induz a uma simplicidade absoluta e grandiosa... nada de regras, nada de floreios!
Ah! Vamos ver se aprendi como se faz o Verbal de Ave:
1 - na boca
do rio
o silêncio das águas
2 - no bico
do pitanguá
um ramo de fogo
3 - o tatu
rolou pela ribanceira
com os filhotes
4 - na língua
do beija-flor
escorria o mel
Como não ousar e voar com os tercetos?
...E viva a poesia!!!