Ser poeta
Sou escritor, sou poeta! Essa autodenominação pode soar presunção, uma vaidade? Muitos consideram escritor somente os autores que tenham livros publicados, ou uma trajetória acadêmica, além de ter a arte de escrever como uma profissão.
Escritores sem livros publicados são chamados, por alguns, de escritores amadores. Também vemos muitos se autodenominando “poetas amadores”, o que acaba se atentarmos bem para essa definição, soando pejorativo, sem valor, pois amadorismo é o nome dado ao desempenho de uma atividade por pessoas sem conhecimento avançado do assunto e utilizando equipamentos e técnicas não-profissionais.
Mas, para expressar-se através da arte das palavras, não se faz necessário títulos acadêmicos, que embora se aprofunde em estudos literários e da língua em relação a sua estrutura, funcionamento, literatura e manifestações culturais, não forma ou transforma ninguém em poeta, contista, romancista etc.
Machado de Assis, por exemplo, escreveu em praticamente todos os gêneros literários, sendo poeta, romancista, cronista, dramaturgo, contista, folhetinista, jornalista, e crítico literário, no entanto mal estudou em escolas públicas e nunca frequentou universidade, e é considerado um dos grandes gênios da história da literatura.
Ter conhecimento avançado no assunto pode até nos transformar em poetas parnasianos (rsrsrs) buscando a perfeição formal a todo custo e perdendo a essência do texto, com metrificação rigorosa, escrever deixa de fruir e passa a dar dor de cabeça. Fruição é tudo minha gente! Já diria uma professora minha, e ela está coberta de razão.
Ser poeta é navegar entre o sensível, dor e amor, é se esvaziar para se transbordar, é saber fingir e imaginar, enxergar o que ninguém mais vê. Enfim, a importância de ser poeta é resumida por Edmund Burke: “A poesia é a arte de materializar sombras e de dar existência ao nada.”