PRAXISMO: A POESIA DE VANGUARDA
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Movimentos Modernistas Brasileiros
O ensino da literatura despertou-me o desejo de esclarecer o sentido das Escolas Literárias. Esse assunto é de especial importância para quem se inicia nas andanças literárias em busca de conhecimentos.
O Praxismo foi um dos movimentos de poesia de Vanguarda no Brasil. Surgiu em 1962, com a publicação do livro de poemas Lavra Lavra, do poeta-ensaista Mario Chamie, dissidente do Concretismo. No mesmo ano, Chamie fundou a revista Práxis, onde os praxistas teorizavam sobre o movimento e publicavam seus poemas.
Lavra Lavra trazia um posfácio em formato de "manifesto didático" a respeito do Poema-Práxis:
"O que é o poema práxis? É o que organiza e monta, esteticamente, uma realidade situada, segundo três condições de ação: a) o ato de compor; b) a área de levantamento da composição; c) o ato de consumir. O poema práxis tem seu primeiro momento no projeto semântico; ele é consciência constituinte e constituída porque, nesta condição, é autônomo e independente ainda da área de levantamento."
Contra o intelectualismo de uma arte pela arte, contra a palavra-coisa do concretismo, o manifesto não considera o poema como um objeto estático e fechado e sim como um produto dinâmico passível de transformação pela influência ou manipulação do leitor; isto é, que o poeta deve se misturar as comunidades para fazer um levantamento de discursos. Que depois seriam recriados em poemas e que passariam a incorporar a fala de uma comunidade que só se reconhece pelas palavras trocadas entre seus membros. Estaria, assim, estabelecida uma ponte entre o poeta e a vida social.
De todos os movimentos de Vanguarda no Brasil, foi o Praxismo que mais se limitou à área da palavra e do verso.
Segundo Antonio Cândido de Mello e Souza¹, Mário Chamie "tentou de certo modo preservar a estrutura do poema, além de manter um forte rastro de realidade. As suas experiências são interessantes como tentativa de manter a tradição do Modernismo sem renunciar ao espírito de vanguarda!".
Eis um poema práxis de Mário Chamie, retirado da Antologia Sábado na Hora da Escuta, publicado em 1978, pela Summus:
GALERIAS
Nas vastas galerias de sombras / passam os detritos. As ondas.
Um barco navega: fantasma / com ferrugem nos cascos
com caveiras no mastro /com salsugem nas quilhas.
Nas baixas galerias das vias, / o lodo concentra-se em pilhas,
um sapo deglute a mosca, / seu peixe de água salobra.
Nas sujas galerias do esgoto, / um crime carrega seu corpo,
um trem trafega sem rumo, / um lodo concentra seu sumo.
Nas vastas galerias de sombras, / o pesadelo pesado do povo
pesa seu sono de chumbo, / dorme em seu leito de escombros. ®Sérgio.
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1 – Estudioso da literatura brasileira e estrangeira. É professor-emérito da USP e da UNESP, e doutor honoris causa da Unicamp.
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