O TEATRO DAS MORALIDADES
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Estudos Literários
"Por falta de uma classificação exata, as peças medievais de assunto religioso ou edificante são geralmente designadas 'autos', independentemente do tema ou da técnica usadas." (Carlos Ceia, Dicionário de Termos Literários).
A Moralidade era uma forma de teatro medieval didático. As representações desse gênero se desenvolveram no século XIV, ou seja, mais tarde que O Milagre e O Mistério; de modo que serviu de continuação destes dois gêneros. Embora As Moralidades estivessem repletas de ensinamentos cristãos, os acontecimentos bíblicos dão lugar a figuras que personificavam defeitos, virtudes, acontecimentos e ações do homem, em conflito com as correntes opostas do Bem e do Mal pela posse da alma humana no momento da morte. Desta forma, podemos dizer que as moralidades baseavam-se no princípio universal decorrente da Queda e da Redenção da Humanidade: o homem é destinado a morrer em pecado, a menos que seja salvo pela intervenção divina. Assim, os temas tinham sempre intenção didática pretendiam transmitir lições morais e religiosas, e até, por vezes, políticas. Por isso, as personagens eram abstrações personificadas de vícios ou virtudes do homem: Juízo, Perdão, Boas Ações, Discrição, Cinco Sentidos, Sete Pecados Mortais, Sete Virtudes Cardeais, o Mundo, os Pecados, a Alma, bem como as figuras do Diabo e dos Anjos, para só citar esses nomes. O protagonista era sempre a humanidade.
Assim sendo, não seria sem razão dizer que as palavras eram muito mais importantes do que o próprio espetáculo, impregnado de alegorias. Pois, delas se retiravam as lições de bons costumes que deveriam ser seguidos.
A mais famosa Moralidade é o Everymam, obra prima anônima, em língua inglesa, redigida nas primeiras décadas do século XVI. Nela Todo-o-Mundo é chamado pela Morte, para prestar conta de sua vida em seu momento final. Observa-se que a moralidade, por esses tipos de enredos, aproximava-se do teatro religioso, embora ela não seja caracterizada como litúrgica porque incorpora grande número de elementos profanos e cômicos.
O esquema alegórico da Moralidade aproxima-se, por vezes, da farsa, proporcionando a representação de caricaturas ou sátiras que visam corrigir os costumes e despertar, em simultâneo, o interesse do público pelo riso. O cômico ficava geralmente a cargo dos vícios, do Diabo ou da figura do indivíduo tolo, os quais, em contraste com as personificações do bem, se apresentavam como criaturas divertidas capazes de seduzir o ser humano.
Na literatura portuguesa, Gil Vicente é o dramaturgo mais representativo deste gênero dramático. A produção de Gil Vicente (autos de devoção), pela sua estrutura ou temática, poderia enquadrar-se no âmbito dos Mistérios, Milagres ou Moralidades Medievais. O próprio dramaturgo denomina genericamente por Moralidade todo o conjunto das suas peças de inspiração religiosa, das quais se destacam a trilogia das Barcas e o Auto da Alma.
As moralidades tinham características específicas conforme os países. Na Inglaterra, questionava o destino do homem. Na França, os 60 exemplares do século XV, observavam o comportamento social do indivíduo, por meio de temas como: razão, contrição e fé, no âmbito da religião; ofício, mercadoria pouca aquisição da política, no da moral. A partir do século XVI, a moralidade perde popularidade, mas pode ser considerada um grande passo em direção ao teatro moderno. Pois, sua existência influenciou dramaturgos posteriores, como Christopher Marlowe, em Doctor Faustus (Doutor Fausto) de 1588. ®Sérgio.
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Informações foram extraídas e adaptadas ao texto de: Lígia Vassallo, O Teatro Medieval. / Massaud Moisés, Dicionário de Termos Literários.
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