OS ELEMENTOS DA OBRA LITERÁRIA
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Dois são os elementos da obra literária: O Conteúdo e a Forma.
CONTEÚDO (ou fundo)
São as idéias, os conceitos, os sentimentos, os apelos e as imagens imateriais que as palavras transmitem da mente do escritor à do leitor.
Quando o escritor produz sua obra, coloca nela a sua visão do mundo, sua maneira de pensar e de sentir. Esta maneira de ver as coisas através de sua consciência de escritor é que constitui o conteúdo de sua obra. Isso não significa que a obra, necessariamente represente a figura do escritor, mas sim que sua figura está presente no conteúdo, no significado dessa obra.
O conteúdo é comumente confundido com «assunto ou mensagem» de uma obra.
FORMA
É a linguagem escrita ou falada «veículo» das idéias e dos sentimentos do escritor. Para Tolstoi o conteúdo é a arte da comunicação; a «forma» artística o meio para conquistar o público mediante o conteúdo. Assim, na «forma» temos os aspectos que envolvem a construção do texto, ou seja, o vocabulário, a sintaxe, a sonoridade, as imagens materiais, a disposição das palavras no papel. Portanto, a forma envolve os aspectos lingüísticos e gráficos do texto. A forma é, por vezes, tomada por «gênero ou espécie», o que constitui um emprego abusivo.
Para muitos estudiosos, não se separam conteúdo e forma. Na verdade são indissociáveis: localizam-se no texto literário, o que equivale a dizer que se concentram num único objeto, «a palavra escrita». Têm uma categoria Dual, são um «par de seres». Assim, um romance, um conto, um poema, não tem conteúdo e forma separadamente, mas possuem uma forma/conteúdo. Isto é, se uma obra tem uma forma; já está encerrada a idéia de conteúdo.
Entretanto, parece fora de dúvida a existência, ao menos do ponto de vista metodológico, de uma distinção entre ambas. Toda a vez que o leitor examina a gramática, as soluções lingüísticas do texto, está privilegiando a forma em prejuízo do conteúdo. Preocupa-o antes “como” o texto diz, do que “o” que diz. Em suma despreza o “mundo”, em favor da linguagem na qual o texto se converteu. Esse procedimento nos dá uma visão parcial do texto, mas também evidencia que a separação é possível e praticável. Todavia, a pesquisa completa do texto pressupõe a sondagem “do que se diz” e “do modo como se diz”.
A forma de uma obra de literária pode apresentar-se sob dois aspectos diferentes: «a prosa e o verso».
a) Prosa
Expressão natural da linguagem. Usada normalmente ao conversarmos, ao escrevermos uma carta, ao fazermos uma redação, sem metrificação intencional e não sujeita a ritmos regulares. Veículo comum do pensamento. O texto divide-se em blocos chamados parágrafos, que é a característica mais notória de um texto escrito em prosa. São compostos de períodos, orações ou frases que desenvolvem uma única idéia.
Num texto, a cada idéia diferente, acrescentada à anterior, deve também corresponder, a um parágrafo diferente. Um novo parágrafo deve sempre indicar um pensamento a mais. Por isso, na prosa, é essencial o uso correto da pontuação e a paragrafação para obtermos um texto que transmita nossas idéias de modo correto, claro, coerente e agradável de ler.
b) Prosa Poética
Tem jeito de prosa; a disposição das palavras na folha de papel é feita em parágrafos, mas não é difícil perceber numa leitura em voz alta que há um ritmo marcado por pausas e ênfases. A esse ritmo costuma-se chamar «ritmo poético» e aos textos em prosa carregados de significação poética, em que predomina o ritmo das frases, a sonoridade das palavras chamamos de «prosa poética».
Compare os dois textos seguintes. O primeiro é um exemplo de prosa comum. O segundo, um exemplo de prosa poética:
1. Ouvíamos o apito do trem e logo depois o ranger de suas rodas nos trilhos, bem ao lado de nossa casa. Era o trem de Belo Horizonte. Sua passagem acordava-nos, fazia louças e panelas caírem dos armários e toda a casa tremer como se ocorresse um terremoto.
2. Não há nada mais triste do que o grito de um trem no silêncio noturno. É a queixa de um estranho animal perdido, único sobrevivente de alguma espécie extinta, e que corre, corre, desesperado, noite em fora, como para escapar à sua orfandade e solidão de monstro. (Mário Quintana)
VERSO
A simples apresentação de textos em versos permite sua imediata identificação. Versos são as linhas descontínuas, quebradas, que formam o poema. Sem parágrafo, sem período, os versos de um poema, que podem ser metrificados ou livres; cada bloco de versos forma uma estrofe. A linguagem poética sob o aspecto auditivo ou melódico se caracteriza pelo ritmo, bem mais acentuado que na prosa, e pela eventual utilização da rima. É a linguagem subjetiva, carregada de emoção e sentimento, com ritmo melódico constante, bela e indefinível como o mundo interior do poeta. Várias são as possibilidades de exploração da linguagem com esta função poética: no material sonoro, nas palavras, na associação de idéias, nas construções frasais. Para isto utilizam-se o ritmo, a harmonia imitativa, a rima, a aliteração, as figuras de palavras, as figuras de pensamento, as figuras de sintaxe; visando sempre um efeito estético (de beleza, belo).
Na forma clássica os versos possuem métrica, ritmo e rima.
1. A métrica impõe ao verso uma quantidade definida de sílabas poéticas, que se contam como se fala e não como se escreve. «escandir» um verso é marcar suas sílabas poéticas.
2. Metro é a medida ou a extensão da linha poética.
3. A rima é a repetição de sons idênticos ou parecidos ao longo das estrofes, mais comumente no final de versos alternados. Embora seja elemento secundário e até mesmo dispensável, a rima é aproveitada pelos poetas para comunicar aos versos mais harmonia e encantamento. É um recurso musical que agrada aos ouvidos.
4. O ritmo é feito através de sílabas fortes e fracas mantidas com uma certa regularidade de posição no conjunto de versos. Um poema pode abrir mão de tudo — rima, estrofe, métrica —, menos do ritmo.
ESTILO
É a maneira típica de cada um exprimir seus pensamentos, sentimentos e emoções, através da linguagem. No estilo cumpre distinguir o aspecto material ou lingüístico (que são as possibilidades de expressão que a língua oferece ao escritor e que este seleciona a seu gosto e até mesmo recria) e o aspecto mental, psíquico, subjetivo, ou seja, os traços psicológicos do artista, suas tendências, seu modo de ver e julgar a vida e o mundo em que vive. Da fusão desses dois elementos, um externo, outro interno, é que resulta o estilo.
Todo o escritor tem seu estilo próprio, isto é, sua expressão tem uma forma característica, que nada mais é, do que a manifestação de seus impulsos emotivos, da sua sensibilidade e a aparência peculiar do seu próprio espírito. Podemos, pois, afirmar que o estilo é o espelho onde se reflete a alma do escritor, a tela em que se projeta a personalidade do artista. Mas, além destas características individuais que diferenciam os autores uns dos outros, o estilo revela também os traços psicológicos das raças e as tendências das diversas escolas literárias. Daí dizermos que há um estilo clássico, um barroco, um modernista, etc. ®Sérgio.
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