NÃO SER

Quem me dera voltar à inocência

Das coisas brutas, sãs, inanimadas...

Despir o vão orgulho, a incoerência.

Mantos rotos de estátuas mutiladas!

Ah! Arrancar às carnes laceradas.

Seu mísero segredo de consciência!

Ah! Poder ser apenas florescência...

De astros em puras noites deslumbradas!

Ser nostálgico choupo ao entardecer...

De ramos graves, plácidos, absortos...

Na mágica tarefa de viver!

Ser haste, seiva, ramaria inquieta...

Erguer ao sol o coração dos mortos...

Na urna de oiro duma flor aberta!

Florbela Espanca
Enviado por Troya DSouza em 18/11/2023
Reeditado em 18/11/2023
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