ANJO MEDONHO

Adeja num plácido céu de mentira,

com véu de ilusão em rendilha embaçando

o aspecto feroz, vingativo, nefando

da essência medíocre, que em chagas delira.

E sonha dulçor de ternura, que inspira

o mundo ao redor, de leveza, banhando

seu íntimo atento ao alheio comando;

assim vence a dor que, aos pouquinhos, expira.

Na vida, porém não perduram quimeras.

Cansado de atar-se às inúteis esperas,

prossegue nos trilhos trançados, retortos.

Ardendo no inferno em que encerra, num berro,

seu anjo com asa à armadura de ferro

e penas medonhas de pássaros mortos.