O CERRADO (soneto)

Truncado, entre galhos tortos, sequioso

Duma vastidão desfolhada tal ladainha

Sacerdote do planalto, chão impetuoso

Do sertão, no entardecer o belo avizinha

Rezas quebrantos, o tempo moroso

Sobre cascas grossas, aves, aninha

E, ajoelhado, o pequi, tão saboroso

Tal os servos aos pés de uma rainha

Ardes, num calor do olhar, escaldante

Tão piedoso espera a chuva das flores

E pelos ipês, o inverno seco é ornado

E invade, empoeirado, o vento sonante

Num adeus ao dia, tal velhos amores...

Vem as estrelas, na vastidão do cerrado.

© Luciano Spagnol - poeta do cerrado

Agosto, 2018 - Cerrado goiano

Luciano Spagnol poeta do cerrado
Enviado por Luciano Spagnol poeta do cerrado em 24/08/2018
Reeditado em 30/10/2019
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