O AUTO DE GILGAMESH; ou: Reflexões de um Cego sem Imagem (Soneto Decassílabo Dos Últimos Dias)

Dúbio, tateio em meio à treva densa,

Cego e sem fé no mundo, iconoclasta,

Vagando à toa... O crime então compensa?

Pergunto e não respondo. E isso me basta.

A vasta névoa espessa da cidade

Cobre-me os pés como um carpete fundo.

Piso na lama etérea desse mundo

Sem um porquê... Sem uma identidade...

Desde Alcácer-Quibir a Waterloo,

A história se repete, em ciclo eterno,

Mas de que vale vê-la em passe-partout,

Como passagem de ida para o inferno?

É-me impossível de entender. Desisto:

Nem me finjo de tolo, nem Mefisto.

Péricles Ventura Neto
Enviado por Péricles Ventura Neto em 04/08/2017
Reeditado em 04/08/2017
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