Soneto do fim
Estou descalço, não quero sapatos;
Estou com fome, não quero comida.
Vivi sem ouro, não tive aparatos,
Hoje carrego minha alma vencida.
Tenho sede, mas já não desejo água;
Tenho doença que não tem remédio.
Pesado demais meu fardo de mágoas,
E tão profundo o meu poço de tédio.
Sei que o fracasso tem um gosto amargo,
E agora pulsa fraco o coração;
Cansado, ele sucumbe ao próprio embargo.
Sem saída e nenhum lugar para ir,
Alguém me traga logo o meu caixão.
Estou com sono, me deixem dormir...
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N. do A. – Na ilustração, Sono e Seu Meio-irmão Morte de John William Waterhouse (Roma-1849 – Londres-1917).