Inventado 

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

Fernando Pessoa

 
A minha marca faço de pegada,
nem sei se forte, não revolvo vista!
Nem se por logo já se esvai a pista.
Percebo só singrar em navegada.

Encalço a mim em marcha adiantada,
guiado por meu rastro futurista.
Sequaz da criatura feita artista,
airado de alma gasta, reciclada.

Avante posto, findo labirinto.
Liberto herói Teseu do vão intento.
Exibo besta fera em tenro instinto.

E vou recriador de sina-evento.
Mais que fingir a dor que vera sinto,
ardo amador no amor que fiz de invento.