METAMORFOSE
Deito os olhos no mar calmo e descanso
Meu corpo e alma, da luta e sofrimento.
Todos os males, todo o antigo ranço,
Quero expurgar neste único momento.
Quero que o mar à minha frente, manso
Como um gigante adormecido e lento,
Me transmita a harmonia de seu remanso,
Me dê a paz de seu sussurro ao vento.
Mas eis que pouco a pouco o monstro acorda,
Se agita e de furor quase transborda.
Percebo então que, nesta hora agourenta,
Sem querer fui o mais forte e o mais rude:
Em vez de o mar me infundir sua quietude,
Infundi-lhe eu o mal que me atormenta.
(Selecionado para a coletânea dos 50 melhores sonetos do IX Festival Internacional do Soneto)