SONETO À MINHA MÃE

Trouxeste-me à luz e no entanto
Nos meus olhos vejo tudo embaçar
Em lugar algum existe encanto
Apenas tristeza em meu olhar...

Vejo nesta casa em cada canto
De ti algum detalhe se mostrar
Mamãe, quisera em teu colo santo
Poder minha cabeça repousar!

Perco-me no espelho à procura
Daquela visão sonora a guiar
Minha fragilidade com doçura

Restou da imagem especular
Apenas o buraco na moldura
Onde em vão tento me encontrar...

 
 Ao maior exemplo de humildade e retidão que eu tive! Albertina era o seu nome, Bebé para os íntimos. A mim ela ensinou acreditar em Deus e na Virgem Maria, a não me desesperar, diante das dificuldades “porque tudo se ajeita", conforme a vontade do Pai... Ensinou-me a querer apenas o que é meu e a respeitar o próximo... Até dar a outra face se for preciso (o mais difícil) ela me ensinou...                           
Ah, mas ela não soube me ensinar uma coisa: como olhar para uma fotografia e entender que é apenas uma imagem, que o modelo não existe, se trago nos meus sentidos, na mente, no coração, sei lá onde, tudo tão vivo, tão claro, tão perto, tão real a respeito dela?
Às vezes, como agora, ela surge assim, sem que eu lhe veja a face... Deita-me no colo e com as pequeninas e gorduchas mãos, acaricia-me os cabelos e me faz chorar de alegria... Aos poucos, vai sumindo como névoa no espaço... 
Lídia Bantim
Enviado por Lídia Bantim em 21/07/2016
Reeditado em 10/05/2020
Código do texto: T5704826
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