Libido fardada

Inspirado nos recentes episódios quase clandestinos das chamadas "sacadas gourmet", o soneto que segue fundamenta a suspeita de que aqueles que pretendem acordar o verde-oliva com o soez despertador do golpe despreciam o próprio tempo. Já não encontra eco no som oco das panelas o sucesso que as fanfarras faziam no passado. Peço vênia ao Mestre Nagao para, à minha moda canhestra, ensaiar um toque de humour.

Minha libido anda bem cabisbaixa,
diria que por demais meditativa;
foi reformada, abandonou a ativa,
vestiu pijama desde que deu baixa.

Pensa ter feito voto de abstinência,
dorme bem, mas não come quase nada.
De há muito não a vejo perfilada,
não desfila nem bate continência.

Hoje nada mais é como antes;
tinha paqueras noivas e amantes.
No tempo em que foi de cabo a alferes

só poupava as irmãs dos comandantes.
Fazia muito sucesso com as mulheres;
agora, nem com pratos e talheres.

Luca Barbabianca

(Publicado originalmente em www.algoadizer.com.br edição nº 95, agosto de 2015).