Soneto ao Grito

Livre, ele relutava no observatório de estrelas

Torceu, remoeu, reivindicou dentro de mim

No estômago diverte, faz arte com borboletas

És fortaleza, escorre lágrimas silenciosas sem fim

Se grito tivesse gosto, degustaria como alecrim

Se tivesse tom, viria assustado fingindo ser agudo

Se tivesse cor, talvez azul, preto, roxo ou violeta

Se tivesse textura, deleitava-se como nobre cetim

Silencioso grito, órfão de palavras e sons contusos

Nasce afônico, almeja timbres de velhas cornetas

Faz palpitar de mansinho o peito, doloroso e obscuro

Grito abortado na alma, perdedor do jogo da satisfação

Tortura a alma, pinga fogo sendo verbo penetrante

Clandestino substantivo, voluntário e pobre de razão

Renata Rodrigues
Enviado por Renata Rodrigues em 03/06/2015
Reeditado em 04/06/2015
Código do texto: T5265471
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