SONETO EM EPITÁFIO
Poupem-me as lágrimas, as flores
- As faces em consternação, doloridas -
Em choros, em exaltação, incontidas
Em ritos, em lamentação... Em clamores
Poupem-me o pranto... As dores
As manifestações de pesar desmedidas
As procrastinações indevidas
... E a inversão estúpida de valores
Enfim... - Quando eu partir...!
Calem-se as manifestações de sentir
... Contraditoriamente ao q'eu penso.
E poupem-me...!
- Incondicionalmente... As flores -
Como nos fossem a vida a exalar olores
... - Deixem-me dormir em silêncio!
Puetalóide
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INTERAÇÃO
De que vale flores na passagem?
Delas, nem sequer levo perfume
De mim só restará puro estrume
Do átrio que me pusera bagagem
E quantos acúleos nessa viagem
De cada flor será mais um gume
Para perfurar tão grosso tapume
Qual me veste a própria imagem
Nem perdido choro, vela e lume
Ou toda ladainha que se arrume
Poderá encrustrar uma mensagem
Só quero ir conforme o costume
De beber o morto, festa assume
Toda alegria sem tal sacanagem!
Juninho Correia
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QUANDO EU PARTIR
Quando eu me for, no derradeiro dia,
Finalmente envolta em alva mortalha...
Somente o linho branco que me valha,
Somente a paz estampada na face fria.
Não desejarei flores, somente alegria.
Pois minh'alma deixará esta muralha,
Terá vencido tão difícil batalha...
Não quero nem sequer alguma nostalgia.
Com um sorriso no rosto eu seguirei,
E nenhum desgosto mais eu temerei,
Pois a grande ventura terei alcançado.
Com apenas uma rosa no peito irei,
E a ternura das almas que eu esperei,
Meu voo eterno, finalmente alçado!
Adria Comparini
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MEU EPITÁFIO
(OU TESTAMENTO)
Se eu morrer mais tarde ou amanhã,
Não quero que ninguém fique triste - Eu vivi!
E, vivi completamente tudo o que quis,
De verdade, ou através do sonho.
E, assim, fui muitas vezes feliz.
Comigo não levarei nada,
Entretanto, deixo minha poesia
Espalhada pelos quatro cantos.
E, se alguém se dispuser a corrigir sua rima,
Não vou me incomodar.
Nunca dei importância a isso!
Somente para o que estava sentindo.
Deixarei o meu perfume,
Em cada hortelã graúda,
Que você encontrar.
E, se, em noite sem aconchego,
Tiver um pesadelo,
Com vento ou sem vento,
Meu perfume lhe acordará.
Deixo também o mar
Que sei, nunca foi meu!
Contudo, quando nele mergulhava,
Com certeza ele era meu.
Sim... Só meu!
Quanto ao meu violão,
Há muito num canto esquecido,
Faça de conta que é seu.
Lustrado e com cordas novas,
Quem lembrará que foi meu?
E, assim ele fará companhia
A qualquer apaixonado,
Pela música e pela vida,
Toda noite e todo dia.
Logo, sorria!
- Ele é seu!
- Quem diria!!!
O meu corpo?
Ao pó voltará independente do lugar.
Então tanto faz ficar aqui ou acolá.
E ao deixá-lo, esqueça!
Não sou eu que ficou lá.
Fiquei em tudo que deixei,
E que acabo de contar.
Portanto, me aproveite bem,
Pois se em vida não o fez...
É, enfim, chegada à vez.
Ysolda Cabral
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A MORTE DO POETA
O cisne canta a morte, se a pressente,
se pressagia à vida o instante atroz.
O cisne canta até perder a voz,
até que o seu grasnar não se sustente.
Como o cisne, o poeta a morte sente
quando seus versos versam sonhos sós.
Sonetos em silêncio! A mais atroz
das mortes mnemônicas da mente.
Quando os seus versos vertem dos não lidos
e musa alguma a eles dá suporte,
quando restam no rol dos esquecidos,
o poeta, postado à inversa sorte,
qual um cisne em seus últimos grasnidos,
em soneto declama a própria morte!
Odir Milanez
- Oklima -
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INTERAÇÃO
... além de tudo,
são apenas manifestações de apreço,
que mandam para uma alma,
que já possui outro endereço!
Vanderleis Maia
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**ENTRE A VIDA E A MORTE**
A vida tem na morte uma grande aliada,
Pois lhe permite atuar em vários planos...
Pensar que ela seria o fim, é um engano,
Que alguns tiveram na mente enraizada...
Como uma porta de saída desse mundo,
A morte nos leva, libertando-nos afinal,
Do corpo físico e preservando o mental,
Para permitir um aprendizado profundo...
Vivo é o estado contínuo do Deus filho,
Que afinal, é o que somos em essência...
Morto é o pó que perdeu a consciência...
E assim como a luz tem em si, o brilho,
Que reflete na matéria a luminescência,
A vida traz em si, do Pai, a Onisciência...
Jacó Filho
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INTERAÇÃO
A morte é o passaporte para uma viagem só de ida
É uma viagem solitária, com destino ignorado, incerto
Na bagagem apenas a saudade de quem sente a partida
E a esperança de um reencontro no reino eterno.
Lucia Moraes
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POESIA PÓSTUMA
Passou da vida para a morte?
Poeta não morre, vira poesia
prefere sair para o rumo norte
Palmilhando o silêncio noite e dia
Poeta tu pensas que és imortal?
Perfeito, eu também acho assim
Prefiro deixar esta vida carnal
Para virar um lindo querubin
Parece que não é assim que acontece
Para lá dos muros do desconhecido
Podemos crer que Deus jamais esquece
Prontamente nos recebe enternecido
Paz é o que a morte me causará
Por isso eu não tenho medo
Pranto alguns vão derramar
Posso contar um segredo?
Primogênito é o meu único filho
Principal eleito do meu amor
Por ser meu espírito andarilho
Pronta estarei para encontrar o SENHOR!
Fernanda Xerez