FALÊNCIA II

Não meus olhos, minha alma agora chora;

Há tempos não escoa meu olhar

As águas volumosas desse mar

Das lágrimas retidas até agora.

O tempo, esse carrasco contumaz,

Obliterou-me as vias lacrimais,

Trazendo-me a visão dos animais,

Cuja ausência de choro imita a paz.

Mas eis que o ledo engano foi desfeito:

O bicho mais simplório tem no peito

Ao menos um invisível coração;

Porém, se o coração da besta-fera

Não chora por ausência ou por espera,

Eu choro por falência da emoção.

Marcelo David
Enviado por Marcelo David em 29/09/2013
Código do texto: T4503481
Classificação de conteúdo: seguro