FALÊNCIA II
Não meus olhos, minha alma agora chora;
Há tempos não escoa meu olhar
As águas volumosas desse mar
Das lágrimas retidas até agora.
O tempo, esse carrasco contumaz,
Obliterou-me as vias lacrimais,
Trazendo-me a visão dos animais,
Cuja ausência de choro imita a paz.
Mas eis que o ledo engano foi desfeito:
O bicho mais simplório tem no peito
Ao menos um invisível coração;
Porém, se o coração da besta-fera
Não chora por ausência ou por espera,
Eu choro por falência da emoção.