RASURAS

Imenso absurdo, o grito multiplicado,
O grito que tinge, atinge as alturas,
Traduz no noturno o tenso estado,
Ego estilhaçado pela amargura.

Instantes cortantes - me fazem errado,
Oposto ao sumo rumo da ternura,
Oblíquo prumo do silêncio quebrado,
Um quadro propenso para a loucura.

Ecos do grito retumbam no céu ondulado,
O vento canta no contorno da figura,
Com as rasuras de um filme mal filmado.

Extensa noite! adensa toda sua negrura,
Sobre o corpo imóvel, desalado,
À espera que o novo dia traga a cura.


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O GRITO

Um grito de amargura quebra a noite
Embaçada de dor. Os estilhaços
Faíscam pelo céu como açoites
E laceram a alma em mil pedaços...

Momento tenso... E tudo silencia!...
E o sofrimento cruel assim se expressa
Parece que a loucura principia
Em novo ato da peça já pregressa...

Tudo pára no ar... A própria sorte
Teima por esperar talvez a morte
Talvez da Dor, talvez do Amor, talvez...

E nada existindo de definitivo
O tempo célere caminha, assim, altivo
Esperando encontrar, de outro alguém, a vez...


(ÂNGELA FARIA DE PAULA LIMA)