Carta a um garçom terapeuta.
Neste instante, dileto e bom amigo,
que o medo embriaga a esperança,
espalho versos pela vizinhança
e faço Jung rir do próprio umbigo.
Pois tento entender, mas não consigo,
sequer uma metáfora de mim.
Não sei se sou começo ou se sou fim,
se deixo o novo em busca do antigo.
Mas algo em mim me dá uma certeza.
Um dia hei de sentar àquela mesa
para brindar aos loucos e aos seus:
os músicos, poetas e outros bichos,
que teimam em manter os seus caprichos
às barbas do demônio ou de Deus.
A gorjeta, garçom, vai pros ateus!
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Terapia no Bar
Ângela Faria de Paula LIma
Os garçons são melhores terapeutas
que muitos psicólogos por aí.
São pacientes,escutam com desvelo,
falam com as pessoas e não de si.
O bebum, que ali na mesa senta,
não quer saber do sério quase nada,
ele só quer falar, falar das dores
e resolver, no copo, a parada.
Falam de si, dos outros e da vida,
choram as mágoas da mulher perdida,
exageram a dose de aflição...
E o garçom tudo escuta e se cala,
mantém todo o segredo, nada fala,
e, da camisa, limpa a mancha de batom!