Espelho
Por trás da moldura envelhecida
uma figura me fita, e não sou eu,
espectro d’alguém que já morreu
e s’esqueceu de despedir da vida.
Vejo a face, tracejada, distorcida,
onde a ação do tempo a corroeu,
no olhar que s’assemelha ao meu,
vivacidade embotada, escurecida.
Indago então, ao surreal visitante,
por que ele se faz tão vil farsante,
enganoso, a se passar por mim...
E ele responde, co’a face radiante,
que não existe farsa ness’instante...
...É a velhice que chegou, enfim...