PLATAFORMA

HORA DO EMBARQUE

(a meu pai, depois de tantos anos de distância)

Ei-lo: vulto no ocaso; eu: meio-dia.

Entre nós haveria semelhança?

Eu já fôra manhã ao ser criança

Quando era feliz e não sabia.

Desde então aprendi na travessia

Os valores que trago por herança.

Mas o pó e os tropeços dessa andança

Vem minando a coragem que eu trazia.

Eis-me, pois, relembrando o que ele disse

E até mesmo o que achara ser tolice

Com o tempo entendi porque dissera.

Hoje nada responde, enquanto espera.

É que ali, da janela da velhice,

Ouve apenas o tempo que acelera.

São Paulo, 1/12/2010

(1h30min de uma madrugada nostálgica)

DEPOIS DO EMBARQUE

(a meu pai: meu retorno nos tempos de partida)

Ei-lo: vulto no ocaso; eu: meio-dia.

Entre nós haveria semelhança?

Eu já fôra manhã ao ser criança

Quando era feliz e não sabia.

Desde então aprendi na travessia

Os valores que trago por herança.

Mas o pó e os tropeços dessa andança

Vem minando a coragem que eu trazia.

Cada sim ou talvez ou cada não

Garantia o embarque na estação

Ou servia de bússola ou chancela.

Hoje a vida agiganta-se na tela:

Ei-lo, pois, no vagão, e da janela

Vê-me aqui, esperando meu vagão.

São Paulo, 1/12/2010

(23h50min de outra noite nostálgica)