Soneto da Traição
Ó, belo sonho! Ousei sonhar-te um dia...
E em que tamanho pesadelo te fizeste!
Arrebataste-me a minha etérea veste,
roubaste-me a minha doce fantasia.
Tombaste-me do meu adejar celeste,
deixaste-me a alma tristonha e vazia,
sugaste-me do peito qualquer alegria...
E, bem sei, outro jeito tu não tiveste.
Não germinaste, ó sonho! - nem podias -
em teu seio jazia o virulento germe
da vil traição, ardilosa, cruel e moleste...
Essa irmã siamesa da infame covardia,
que corrói o teu viço e te faz inerme,
qual um verme trazido nas asas da peste...