Soneto das Lembranças que Agonizam
Nas asas do sonho voou minha poesia,
na lira da quimera entoou doce canto,
viajou por céus de puríssimo encanto,
até que desceu a noite, negra e fria.
Descoberto o vil ardil, o desencanto...
No coração a dor da decepção ardia,
oh, desolação de amor - alma vazia! -
desengano logo tornou-se em pranto.
Hoje, restou apenas a lira sem cordas,
o sombrio espectro dum sonho sem asas,
e meu coração quase nem se recorda...
Salvo as noites que se põe em brasas,
invadido pela já moribunda e débil horda
das lembranças, ora remotas e rasas...