Retórica - Aristóteles

“Seria absurdo afirmar que alguém devesse envergonhar-se por ser incapaz de defender-se com seus membros físicos, mas não de ser incapaz de defender-se mediante o discurso racional quando o uso do discurso racional distingue mais o ser humano do que o uso dos seus membros”

Analisando criticamente os tempos atuais, nos quais as barbáries do comportamento humano estão cada vez mais constantes, fica difícil de acreditar que a cerca de 2400 anos atrás já existiam homens que refletiam sobre as condutas humanas à luz de fatores essenciais para o convívio em sociedade, como a ética, a justiça e a lógica, fatores estes que estão presentes no estudo de Aristóteles sobre a arte da retórica, como vimos na sua frase no começo deste texto e que iremos abordar aqui de uma maneira um pouca mais detalhada, assim como outros pontos importantes dessa obra fundamental sobre comunicação e persuasão, destinados a políticos, advogados ou a qualquer pessoa que se interesse por filosofia ou meramente ao estudo dos livros imprescindíveis para a compreensão da cultura ocidental.

Segundo Aristóteles, são três os gêneros da retórica: o deliberativo, o forense e o demonstrativo, cada um referindo-se a três tipos de tempo diferentes, o futuro, o passado e o presente, respectivamente; assim como são três as classes dos discursos que os determinam: o orador, o assunto e o discurso. Falaremos um pouco sobre cada um destes elementos.

O gênero deliberativo é voltado para persuadir o público sobre o que fazer no futuro, especialmente em relação a questões políticas e legislativas. Os discursos deliberativos são comuns em assembleias políticas, onde os oradores tentam convencer o público a apoiar ou rejeitar propostas específicas. Eles se concentram em questões de política, legislação e administração pública.

O gênero forense é utilizado em contextos judiciais, com o objetivo de persuadir um público sobre a justiça ou injustiça de ações passadas. Os discursos judiciais envolvem argumentos sobre a culpa ou inocência de uma pessoa acusada de um crime, bem como a adequação das punições. Eles são comuns em tribunais e envolvem questões de justiça, lei e moralidade.

O gênero demonstrativo é usado para elogiar ou censurar uma pessoa, objeto ou evento, muitas vezes sem a intenção imediata de tomar uma decisão específica. Geralmente estes discursos são comuns em cerimônias públicas, festivais, funerais e eventos similares, onde o objetivo principal é celebrar, comemorar ou criticar algo. Eles envolvem questões de valor, louvor, crítica e identidade cultural.

Para Aristóteles, havia dois tipos de recursos necessários que o orador devia utilizar para o convencimento, os recursos técnicos (artificiais) e os não técnicos (inartificiais). Os primeiros são aqueles os quais o orador inventa para incorporar a sua própria argumentação e que se repartem em três grupos, tanto quanto as instâncias da relação retórica, são eles: Ethos, que está relacionado ao caráter do orador; Pathos, que está relacionado à emoção do auditório e Logus, que está relacionado à argumentação lógica do orador.

Já os recursos não – técnicos são aqueles os quais existem independentemente do orador, como as leis, tratados, testemunhos, documentos, etc.

Outro conceito central da obra é a distinção entre retórica e sofística. Enquanto a retórica busca a verdade e a justiça, a sofística se preocupa apenas com a aparência da verdade e visa apenas a persuasão superficial. Aristóteles critica os sofistas por manipular a linguagem para obter vantagem pessoal, enquanto defende a retórica como uma ferramenta legítima para o debate e a busca da verdade.

A obra também aborda a relação entre retórica e democracia. Aristóteles reconhece a importância da retórica na esfera pública, onde os cidadãos discutem questões políticas e tomam decisões coletivas. Ele argumenta que a habilidade de persuadir é essencial para a participação eficaz na vida política e para a defesa dos interesses pessoais e coletivos.

Portanto, para Aristóteles, a retórica era muito mais do que apenas um conjunto de técnicas de comunicação; era uma arte que envolvia um profundo conhecimento do assunto, uma compreensão do público-alvo e um compromisso com a verdade e a ética.

Igor Grillo
Enviado por Igor Grillo em 26/04/2024
Reeditado em 26/04/2024
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