Pompeia - Robert Harris

Alguns dias em 79 d.C : pau, pedra, fogo, fim de caminho

Robert Harris - Pompeia, RJ, editora Record, 2005

Pompeia, o livro, se passa em apenas quatro dias do ano 79 d.C., tempo em que os romanos já possuíam um sistema de aquedutos que fornecia um volume de água superior ao que abastecia a cidade de Nova York em 1985. No início é somente água. As lavas e o inferno virão depois. Pois sabemos como Pompeia vai terminar.

Dois dias antes de o Vesúvio começar a despejar sua torrente de magma sobre a cidade, o aguadeiro ou engenheiro Marcus Attilius Primus, agora responsável pelo funcionamento do aqueduto Aqua Augusta e pela conservação das fontes que o abasteciam (e depois as cidades da Campânia), verifica estranhos e preocupantes sinais: algumas fontes diminuíram consideravelmente seu fluxo dágua, outras secaram e quase todas estavam exalando cheiro de enxofre - entre outras coisas.

Ele passa, então, com sua equipe de auxiliares (vários deles são escravos) a inspecionar as diversas fontes servidas pelo Aqua Augusta, tentando encontrar a origem dos problemas e resolvê-los: a população não pode ficar sem água em hipótese alguma. É um trabalho exaustivo e que tem de ser feito rapidamente, sob pena de responder ao imperador em Roma. E ele nem era o responsável direto pelo aqueduto: fora designado para o cargo pouco tempo atrás, pois Aelianus Exomnius, o aguadeiro anterior, simplesmente desaparecera sem deixar vestígios.

Estranhamente, em Pompeia, o abastecimento está normal e a água apresenta as mesmas características de potabilidade de sempre. Entretanto, algo chama a atenção de Marcus Attilius ali: o fluxo da água para as fontes públicas está muito forte - alguma coisa (ou alguém) teria desviado o líquido das outras localidades direcionando-o todo para Pompeia? Um mistério para ele decifrar, sobretudo para resolver.

Se o engenheiro Marcus Attilius Primus é o mocinho da história, o grande vilão é o cruel Numerius Popidius Ampliatus, um ex-escravo ("o pior senhor que um escravo pode ter é um ex-escravo rico", dizem seus atuais escravos), que enriqueceu fazendo negócios escusos com nobres decadentes e senadores corruptos (eles estão em todos os tempos e lugares, esses malditos!). Pensamento vigorante então: "um homem honesto era raro em Roma; um homem honesto era um idiota." O lema de Ampliatus: "Que os deuses nos protejam de um homem honesto." O engenheiro Marcus Attilius é um homem honesto (recusou-se a fazer uma trapaça hidráulica que favorecia o milionário Ampliatus), portanto corre perigo.

Enquanto o pior não acontece para Marcus Attilius nem para Pompeia, Robert Harris vai nos dando algumas curiosas lições de História, pois fez extensa pesquisa e contou com a ajuda de vários especialistas para escrever o livro. A cada capítulo se aprende algo a respeito dos usos e costumes dos antigos romanos, extremamente supersticiosos, sabemos - e tome oferendas, sibilas, sacrifícios, amuletos, previsões, orações etc.

Durante sua inspeção o engenheiro fica matutando: o sumiço de Exomnius poderia ter algo a ver com desvio de água para as termas que o milionário Ampliatus está construindo em Pompeia, e que o tornaria mais rico ainda? Mas não era somente isso: ele descobre, com alguma ajuda feminina, que Exomnius sabia muito mais e acaba entendendo a explosiva situação por inteiro. Muito depressa, mas com pouca chance de se salvar ou salvar outras pessoas. Mas Marcus Attilius era um romano de fibra, que não desistia nunca...

Finalmente a natureza mostrava sua força de vez - na sexta-feira (ou Vênus) 25 de agosto de 79 d.C. Calcula-se que a energia térmica liberada durante a erupção do Vesúvio deve ter sido de cerca de cem mil vezes a da bomba atômica de Hiroshima. Depois, nos dias seguintes, foram muitas as histórias e os rumores que circularam entre os sobreviventes. Dizia-se que uma mulher dera à luz um filho totalmente feito de pedra, e também se observou que pedras tinham adquirido vida e assumido a forma humana. E ainda, que o aguadeiro Marcus Attilius e uma bela moça...

Quem quiser que conte outra, melhor, que leia este livro fabuloso. Acerca dele The New York Times Book Review escreveu que é "Espetacular... arrebatador... com um clímax literalmente catastrófico." Às vezes os críticos são exagerados, mas como eu já havia lido dois ótimos livros de Robert Harris (Pátria Amada e O Fantasma, ambos pela Record, como este), não pensava mesmo em ficar decepcionado com Pompeia, pelo contrário.

Posso estar enganado, mas a obra me pareceu ter mais chance de agradar propriamente o público masculino, especialmente quem gosta de romances históricos na linha de Memórias de Adriano (M. Yourcenar), Juliano (Gore Vidal), Espártaco (Howard Fast) etc. Recomendo Pompeia, de Robert Harris, com entusiasmo.