Resenha Crítica

In: HOBSBAWN, Eric.Sobre história. 2. Ed. São Paulo: Companhia das letras, 1998.

Ana Cláudia Pereira de Oliveira

Eric Hobsbawn, um renomado historiador, de corrente histórica marxista, sendo ele um grande admirador de Karl Marx, a quem também tem suas críticas no que diz respeito à concepção materialista da história; o livro ‘Sobre história’ é um conjunto de artigos, resenhas, escritas em diferentes momentos.

Hobsbawn defende a idéia de que todos, enquanto ser vivente tem uma consciência, e essa consciência consiste na percepção de que temos um passado, um presente e teremos um futuro. O sentido do passado está ligado à forma de como encaramos o nosso presente, se estamos interligando e o fazendo igual; destaca a existência de sociedades em que tomam o passado, como o modelo padrão para o seu presente, e assim no suceder-se de gerações, mas como se sabe, não é possível trazer o passado à tona intacto sem modificações; relembrar, reviver um passado, por mais recente que seja implica em mudanças, alterações de seu sentido.

O passado nesse aspecto, nada mais é que uma seleção particular daquilo que se pode lembrar, do que se quer lembrar, o seu domínio não corresponde em sua totalidade intacta, o passado é uma ferramenta analítica, mais útil para lidar com a mudança constante, assim para Hobsbawm “A mudança se torna, portanto, sua própria legitimação”, sem a qual não seria possível conhecer a história.

Hobsbawm frisa sobre a importância de Karl Marx na história, sobre as influências ‘exercidas’ em vários historiadores, inclusive ele mesmo; discorre sobre o modo como Marx escrevia história, uma ‘revolução’ no âmbito historiográfico, principalmente por se tratar da concepção materialista da história, uma vez que, foi ela a responsável por revolucionar a historiografia, em seu sentido teórico e metodológico. Sendo assim, a concepção do materialismo histórico sobre as relações materiais que os homens estabelecem entre si, e juntamente a maneira de como produzem os seus meios de vida constituem a base de todas as suas relações. Então, a partir daí surgem outras relações que são chamadas de superestrutura.

Marx faz uma crítica a respeito das concepções idealistas de Hegel, pois segundo ele não devemos ver o mundo através do idealismo apresentado por ele, ou seja, ver o mundo através das ideais e pensamentos, temos que ver de forma materialista. Deste modo, é necessário sair do campo das ideologias e partir para o campo da economia política com base no material, pois são os aspectos materiais que proporcionam a vida de cada individuo na sociedade.

Portanto, os homens estão ligados aos meios de produção em razão de obter os meios de sobrevivência. Para existir, os homens precisam de comida, moradia e vestimenta em quantidades e qualidades adequadas, assim ao produzirem os meios de existência, os homens produzem indiretamente a sua própria vida matéria, a forma como os indivíduos manifestam a sua vida reflete exatamente naquilo que são. Portanto, não é a condição da pessoa que determina a maneira dela ser, mas é a condição dela, a maneira de como vive e sobrevive; assim, é a existência social que determina a maneira de cada pessoa pensar.

Desta forma, em meio a essas principais ideias marxistas, nota-se a ligação da história de Marx há uma história econômica. Marx tinha como objetivo sair dessas concepções que se baseava no campo das ideias e pensamentos, que não eram capazes de questionarem os problemas econômicos, que de certa forma está relacionado sob as bases materiais reais. Desse modo, as concepções de Marx foram de suma importância para a história científica contemporânea tanto no campo teórico como no metodológico.

Mesmo que Marx tenha se direcionado mais para o campo da história econômica, ele não se separou da história, uma vez que tentou sempre buscar no contexto histórico as respostas para os modos de produção tendo como base material a sociedade, para depois formular seus conceitos e concepções partindo desta base.

Mesmo com divergências de historiadores que alto denomina-se ‘antimarxista’, ou mesmo dentro daqueles que adotaram a concepção como manual, como se podem citar os historiadores estruturalistas,os que seguem as ideias de Karl Marx, fizeram em razão de convicções políticas que os levaram a motivações que se identificaram com as ideias marxistas. Assim, quando falamos em história do marxismo, o seu ponto de partida sempre tem seu cerne na "história da massa dos movimentos socialistas".

Temos que considerar que no século XIX foi preponderante um modelo de História Positivista, filho tardio do Iluminismo do século XVIII, e filho da "civilização burguesa", preocupada em constituir uma história ligada a seu passado, marcada pelos grandes fatos históricos, em razão de uma história construída de cima para baixo, além de receber forte influência das ciências naturais introduzindo "conceitos, métodos e modelos" elaborados por essas a fim de serem aplicados à análise social e a história, à medida que se adequassem, foi a sua única contribuição para o campo historiográfico; mas não foi o suficiente para que durasse por longos tempos, não sendo adotados por alguns historiadores, teve seu declínio, com o inicio de uma história materialista, cuja, a base seria o materialismo e socialismo – no que diz respeito à sociedade –.

Com o desenvolvimento da população, o seu grande crescimento e migrações do campo para a cidade, entre outros fatores, o aumento de conflitos e movimentos sociais, tornaram-se uma constante, o que tornou difícil a sustentação da história idealista, não conseguindo formular explicações precisas para tais questões históricas, o que deixou suas contribuições em relação ao entendimento das sociedades humanas, do passado e presente cada vez mais insignificantes e eventuais.

Com toda a influência de Marx, no século XX a história adentrou no campo das ciências sociais, deixando de lado o Positivismo Histórico, trazendo à tona um "quadro referencial de maior ou menor duração" abordando a amplidão total do desenvolvimento humano, no âmbito econômico e social. E, as concepções de Marx, foram se fixando, e como todo bom historiador, recebeu várias críticas até mesmo daqueles que se consideravam “marxista”, o que gerou o termo de “marxista vulgar”, um individuo que ao ler Marx, fazia um entendimento um pouco ou muito diferente do pensamento originário, exemplo, para Marx a base da história, era o aspecto econômico, pois através dele o homem sobrevivia dentro de suas necessidades, continuando assim a fazer história, a sua história, um dito marxista – vulgar – , entende que para Karl Marx a história resume-se a história econômica , o que de certa forma acaba sendo uma má interpretação, ou até mesmo uma leitura incompleta.

Dessa forma, Marx influenciou os historiadores conforme estes adotaram a teoria da concepção materialista da história, e a aplicam em suas práticas metodológicas; por meio de seus esforços sobre a constituição geral do desenvolvimento humano, mediante da concepção da luta de classe instituída também por Karl Marx, homem que revolucionou o modo de ver, pensar e fazer história.

Para Hobsbawm a história marxista toma Marx como ponto de partida e não como ponto de chegada, é uma história pluralista, a quem ele é um seguidor, com muito desejo e convicção.

Enfim, todo povo tem uma história, não existe povo sem a constituição de uma história, e aquele que não conhece sua própria história, está a mercê de repetir a história de seus antepassados, com erros e acertos, mas, em um puro anacronismo.

Ana Cláudia Oliveira
Enviado por Ana Cláudia Oliveira em 11/02/2017
Código do texto: T5909278
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