Resenha da obra O próprio e o alheio: Ensaios de literatura comparada, de Tania Franco Carvalhal

CARVALHAL, Tania Franco. O próprio e o alheio: Ensaios de literatura comparada. São Leopoldo: Editora Unisinos, 2003, p. 07-35.

Tania Franco Carvalhal introduz esse volume de ensaios acerca da Literatura Comparada expondo o principal propósito de tal publicação: a natureza expositiva dos textos (elaborados para palestras, aulas e apresentações em eventos) como maneira de sintetizar e de situar o comparatismo na atualidade, bem como de estabelecer os problemas específicos dessa prática de análise literária.

A autora afirma que a Literatura Comparada é um instrumento metodológico para o estudo de questões interliterárias, interdiscursivas e interdisciplinares na investigação do literário e do cultural, estabelecendo a amplidão dos campos de atuação da disciplina, ou seja, estabelecendo as transformações da Literatura Comparada em relação às teorias analíticas utilizadas em seu processo de constituição como disciplina e como teoria.

Importa salientar que a articulação da Literatura Comparada dá-se a partir de interfaces com outras formas de interrogação literária, como a crítica, as teorias e a historiografia, dominando o conceito de intertextualidade para o comparatismo, uma vez que, através do mesmo é possível investigar a constituição das literaturas por meio dos suas especificidades, seus contrastes e suas semelhanças discursivas. A Literatura Comparada funciona, então, como um dispositivo reflexivo acerca dos discursos intermediados por motivações que não apenas a corporeidade literária (os textos), mas sim, por relações de alteridade com outros campos do conhecimento, principalmente das disciplinas humanísticas, e dos termos culturais, sociais, históricos e econômicos intermediados por e nesses textos.

Não obstante, a Literatura Comparada ocupa-se, também da exterioridade dos textos literários e não-literários, da legitimidade canônica para uns e não para outros textos e as implicações dessa questão, das similaridades e diferenças entre eles, da recepção dos mesmos, dos processos de tradução dos textos na sua constituição identitária (linguística e cultural)

Teorias em Literatura Comparada, o segundo capítulo da obra em questão, apresenta uma retomada dos estudos comparados do século XX, apontando para a institucionalização da Literatura Comparada como disciplina acadêmica, a sua coexistência instrumental com a teoria, a crítica e a historiografia literária, e as iniciais particularizações do objeto científico para a problematização do literário, em uma tomada de consciência de estética textual, evoluindo de uma postura histórica para uma postura reflexivo-teórica em consonância com noções de discursividades dependentes e impessoais.

A coletivização da obra literária, determinada pelo conceito de intertextualidade, é um dos aspectos fundamentais na Literatura Comparada, por conta das interações textuais, isto é, não mais se utiliza o biográfico sobreposto ao textual, mas sim, os processos de apropriação criativa e de recuperação da recepção e da produção do texto. Portanto, pensa-se em uma historicidade contextual, em seus variados códigos de escritura e de leitura dos textos.

Para finalizar o segundo capítulo, Tânia Franco Carvalhal esclarece que assim como as demais disciplinas que estudam o literário, a Literatura Comparada seguiu as vertentes conceituais dos últimos anos, definindo o seu objeto de indagação a partir de parcerias contextuais e por agrupamentos, enfim, o comparatismo atentou para o surgimento de comunidades interliterárias, oriundas de desmembramentos políticos, ideológicos, econômicos e geográficos no/do mundo. Também, lançou seu olhar para o esgotamento teórico das ciências e voltou-se para uma questão mais imediata e funcional: “como a teoria pode ser usada na atual tarefa de ler obras literárias” (CARVALHAL, 2003, p. 32), em uma concretude da obra literária enquanto individuação do universal (o individual e o coletivo ao mesmo tempo).