Iracema: A lenda do Ceará
RESENHA CRÍTICA
Livro: Iracema: lenda do Ceará/ José de Alencar. – 37.ed. – São Paulo : Ática, 2009. 128p. – (Bom Livro)
José Martiniano de Alencar (Fortaleza, Messejana, 1 de maio de 1829 — Rio de Janeiro, 12 de dezembro de 1877) foi o maior ficcionista do romantismo brasileiro. Destaca-se na realização de nosso romantismo, sobretudo na prosa indianista, de que é exemplar Iracema(1865).
Resumo comentado e análise da obra
O livro, que faz parte da trilogia indianista de suas obras (Iracema, O guarani e Ubirajara) conta a história de um romance proibido, quase impossível entre a índia Iracema e o português Martim que, por terem gerado um filho com mistura de tristeza e amor - Moacir (parido da dor) -, Alencar demonstra o início da miscigenação e formação do povo brasileiro.
No primeiro capítulo o autor logo retrata o fim história, onde aparece Martim e seu filho Moacir, voltando para sua terra natal, Portugal; mas por quê? O que leva a ele voltar sem a sua amada? É o que faz com que o leitor se interessa, persuadindo-o a cada estrofe poética no decorrer da leitura.
O começo se dá por Iracema (anagrama de América, pois ha mistura de mesmas letras), com a presença de sua amiga, Ará, se banhando num rio, e que por acaso surge Martim, que tinha se perdido de seus guerreiros brancos nas matas do litoral brasileiro. Ele curioso estava a espiando, quando ela percebe logo lança uma flecha sobre ele. Porém se arrepende e mostra afeto ao estrangeiro, o convidando a ir à taba dos Tabajaras onde está seu pai Araquém, pajé da tribo, para hospitalizá-lo, quebrando assim a flecha-da-paz (entre os índios uma maneira de simbolizar a paz entre as tribos). Nessa sequência já ocorre um “amor à primeira vista” entre eles, e que vai se desenvolvendo ao longo da história.
Na cabana de Araquém, Martim revela ser aliado dos inimigos dos Tabajaras, os Pitiguaras (nome irônico aos índios que comiam camarão). Pouco se importam e os recebem como hóspede na cabana, no entanto o chefe Tabajara, Irapuã, que é apaixonado por Iracema, sente ciúmes e ódio de Martim. Araquém decide que Caubí, filho dele e irmão de Iracema, irá levar o português para além da terra dos Tabajaras, pois ele está em território inimigo e ameaçado por Irapuã.
No caminho, são surpreendidos por guerreiros que tentam matá-lo, sendo interrompido o ato com o som de um aviso de guerra da tribo inimiga. Eles voltam pra cabana e Martim percebe que seu amigo tinha o salvado, sendo um alarme falso. Então Iracema, tentando evitar conflitos futuros, vai ao encontro de Poti, melhor amigo de Martim e da tribo Pitiguara, para armarem um plano de fuga numa noite especial onde todos bebem a bebida do sono. O que acontece é que, antes, Martim pede para beber esta bebida, e nesse momento Iracema dorme com ele. Esse fato justamente foi o grande problema de toda a história, pois ela não poderia dormir com ninguém, traindo assim a sua tribo, e marcando um destino não desejado.
Durante a ocasião eles fogem juntos com Iracema, pois ela já não podia mais deixá-lo. Ocorrem então guerras entre as tribos, os dois se mudam e eles se tornam Pitiguaras. Vivem um tempo de amor, ela engravida, ele começa a sentir saudades de sua terra. Ambos infelizes com o tempo. Nesse tempo, Martim partia junto de Poti para guerras locais, deixando Iracema sozinha, desnutrida. Ela foi perdendo forças e de repente deu a luz a Moacir, recebendo uma última visita de seu irmão trazendo o laço da tribo de volta.
Quando Martim volta, já era tarde , só restava forças a Iracema para entregar o filho e dizer para que a enterrasse na palmeira de coco, que desse lugar, surge o nome de Ceará.
O romance indianista tem por herói o índio, que aparece como figura idealizada, como exemplo na descrição da protagonista – “a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira”–, mesclada com elementos da Natureza brasileira (fauna e flora), que não conseguem ser comparação para ela; possui a identidade nacional, que segundo Alencar ocorre a junção do índio com o português (a civilização europeia).
Na linguagem do texto há algumas dificuldades, apesar de Alencar escrevê-lo de acordo com a época, onde ainda ocorre a colonização do Brasil. Este elemento parece afastar Iracema dos leitores contemporâneos.
A narração está em 3ª pessoa, não participa da história.
Iracema é considerado um ‘’ poema em prosa’’, o próprio autor diz ‘’Quem não pode ilustrar a terra natal canta as lendas suas, sem metro, na rude toada de seus antigos filhos’’.
Por isso seu romance é pitoresco, ou seja, há descrição da paisagem como se fosse uma pintura.
Concluo, portanto, que apesar de o livro ter certas dificuldades de compreensão, ele apresenta uma riquíssima obra literária brasileira, que entre lenda, história e ficção, Iracema se destaca por sua beleza e figura de mulher guerreira no Brasil. Recomendo esta belíssima obra.