ROSEANA MURRAY e suas receitas-poemas
Há certa semelhança nos formatos de uma receita e de um poema e nos dois casos as informações são precisas, diretas, sintetizadas... e contém ingredientes diversos que combinados resultam em algo de bom sabor, que deleita e sacia as vontades. Roseana Muray explora essas coincidências na série de poemas Receitas de Olhar – na realidade um livro voltado para o público juvenil, mas que atinge a todos.
a chave é pequena
de ouro e coragem
o coração é labirinto viagem
muralha abismo trapézio
porta aberta para o outro
gaveta aberta para a vida
(Receita de abrir o coração)
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As suas poesias-receitas não enfatizam as medidas da receita mas o modo de fazer. Ensinam a tocar o outro, abrir o coração e desamarrar os nós nas relações.
desamarre os nós do sapato
depois desamarre os pés
desamarre os laços inúteis
os nós do que não serve mais
desamarre o barco do cais
os nós das janelas
e então deixo o vento....
(Receita de desamarrar nós)
...
As poesias-receitas de Roseana Muray valorizam o tempero, o detalhe, a simplicidade e prevêm o improviso:
faça um careta
e mande a tristeza
pra longe pro outro lado
do mar ou da lua
vá para o meio da rua
e plante bananeira
faça alguma besteira
depois estique os braços
apanhe a primeira estrela
e procure o melhor amigo
para um longo e apertado abraço
(Receita de espantar a tristeza)
...
Segundo a ilustradora Elvira Vigna, as “receitas” de Roseana Murray deixam espaço para que o leitor igualmente possa colocar ou descobrir coisas dentro delas.
nas primeiras horas da manhã
desamarre o olhar
deixe que se derrame
sobre todas as coisas belas
o mundo é sempre novo
e a terra dança e acorda
em acordes de sol
faça do seu olhar imensa caravela
(Receita de olhar)
...
Roseana Murray nasceu no Rio de Janeiro, onde vive até hoje. É casada, tem dois filhos e mais de quarenta livros publicados. Roseana gosta de animais e de viajar pelo mundo, olhando as coisas e as pessoas. Além de escrever poemas para gente de todas as idades, ela visita feiras de livros e escolas, onde trabalha junto com professores e alunos. Suas poesias falam de coisas simples como amor, peixes e flores*.
Se pudéssemos plantar palavras,
como se planta uma árvore,
tantos frutos invisíveis
contido sem seu silêncio,
tanta sombra ao meio-dia
em seu futuro,
palavras simples e quentes,
amor, pão, mel, encontro,
as sementes seriam aladas,
e o vento varreria o jardim,
então, pouco a pouco,
atravessando montanhas,
mares, cidades,
a paz cobriria o mundo
(Árvores in Rios da alegria)
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Segundo Annete Baldi, Roseana Murray não enfatiza a sonoridade, pois observa-se que muitos de seus poemas têm versos livres e há despreocupação com a rima. A ênfase da sua carpintaria poética está no significado: encontra-se nas comparações e nas oposições de sentidos que usa em abundância. E o resultado é a mobilização do leitor, da sua sensibilidade, pela força das imagens sensoriais que surgem através da leitura.
Leia mais sobre Roseana Muray: http://www.docedeletra.com.br
*Outra referência deste texto: http://www.edukbr.com.br/leituraeescrita/setembro02/iautores.asp
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EU NÃO SOU A ROSEANA MURRAY, SÓ PUBLIQUEI UMA RESENHA DO SEU LIVRO, O SITE DA ESCRITORA É: http://www.roseanamurray.com/