OS PILARES DA TERRA - KEN FOLLET
Conspirações, batalhas e fé em plena Idade Média
Considerado um dos maiores escritores em atividade e famoso por livros de espionagem como O Buraco da Agulha e A Chave para Rebecca, há exatos vinte anos o britânico Ken Follet surpreendeu seus leitores ao mergulhar de cabeça num tema para lá de inusitado. Um romance que contraria as lógicas e expectativas, que mistura ficção e realidade como se nada houvesse entre essas vertentes: a construção de uma catedral gótica no interior de uma Inglaterra totalmente feudal, em pleno século 12, sacudida por sangrentas batalhas pela sucessão ao trono de Henrique I.
Se a princípio o tema parece soar meio enfadonho, Os Pilares da Terra – que já vendeu mais de 14 milhões de exemplares, e é o favorito da famosa apresentadora americana Oprah Winfrey – conduz o leitor a uma viagem pelo passado, numa época conturbada, marcada pelo poder do clero e dos cavaleiros, pela ambição em busca do poder ditando as regras e, consequentemente, com a violência tomando proporções inimagináveis.
Em dois volumes bastante generosos, o livro transcende os limites de uma simples história medieval; é o relato de uma paixão desenfreada de um autor, despertada na década de 70 quando ele não passava de um simples repórter do London Evening News. Não se contendo em simplesmente admirar uma catedral em Peterborough, ele quis compartilhar essa experiência, transformando-a num romance.
Se o condutor da primeira parte da história é Tom Construtor – personagem que faz da humildade e determinação uma força preponderante para seus anseios –, a segunda metade é movida pelo amor entre Jack e Aliena – a bela princesa banida de suas terras, uma relação intensa e complicada, que parece naufragar nos mares inquietantes das conspirações até os últimos capítulos.
Cada situação paralela tem um poder imensurável de cativar o leitor e, como um quebra-cabeças, todas as peças se encaixam perfeitamente. Se Tom Construtor é o alicerce que sustenta o início da obra, cabe ao enteado e herdeiro de seus conhecimentos a concretização dos sonhos do padrasto. Difícil ficar impassível diante da frieza e tirania dos vilões, do senso de justiça do prior Philip – homem movido pela fé e pelo fervor de ver uma catedral em seu priorado – , e todos os personagens que gravitam em torno da trama.
Como um verdadeiro arquiteto dos tempos medievais, Follet explica minuciosamente os detalhes pitorescos das catedrais, como se ele próprio fizesse cada cálculo, traçasse cada linha, assentasse cada pedra. Mas engana-se quem imagina que essas tecnicidades tornam a leitura cansativa. Trata-se de uma verdadeira aula de história da arte, mesmo para quem não tenha a mínima noção de arquitetura gótica. E como uma grande catedral se ergue aos poucos, a história se arrasta no mesmo ritmo. Página por página, cada reviravolta deve ser degustada devagar, sem atropelos.
Extremamente emocionante, Os Pilares da Terra demonstra que o passado continua cada vez mais presente na imaginação. Desde a frase inicial (Os garotos chegaram cedo para o enforcamento) até seu desfecho, o leitor é contaminado com um turbilhão de fantasias e fatos reais. E, ao que parece, a ficção deverá ter novas nuanças. Afinal ainda neste ano, a trama de Kollet será transformada numa série de televisão pela produtora do diretor Ridley Scott (Blade Runner, Gladiador). E, ao que tudo indica, a continuação da obra – Mundo Sem Fim –, lançada no Brasil também pela Editora Rocco, deverá trilhar o mesmo caminho. Fica a questão: será que a continuação da saga fará justiça ao original?
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JDM