VINÍCIUS DE MORAES – BIOGRAFIA (Texto de Francisco Viana)

"Vinícius de Moraes - biografia”, faz parte de uma coleção, “Gente do Século”. Segundo informação da capa, o libreto era parte integrante da Revista “Isto É Gente” nº 1, de 29/11/1999. “Não Pode Ser Vendido Separadamente”. O meu livro, pelo menos, comprei num sebo por 4 paus.

Como quase toda obra com apelo para venda no varejão popular, o compêndio citado peca por erros grosseiros(logo à página 1, temos título e subtítulo assim escritos “Vinícios de Moraes – O Múltiplo das Paixões”); um acabamento paupérrimo(a capa merecia um tratamento mais gráfico, ops!, quis dizer “mais humano” mesmo); e um texto quase que completamente dedicado aos 9 casamentos de Vinícius. Não é oferecida nenhuma linha de abordagem crítica, todos os poemas e músicas citados são reproduzidos em fragmentos(quando são), seus porres de uísque estão poeticamente perdoados desde sempre e todos os relacionamentos do Poetinha são edulcorados pela visão simplista de que o homem era um predador macho dedicado exclusivamente a colecionar mulheres.

Apresentado como um trailer cinematográfico, o livro cita, mas não explica, as diferenças com Tom Jobim, quase nada fala de sua atuação como diplomata, versa muito pouco sobre a gestação da bossa-nova(na qual Vinícius teve participação primordial), e o porquê do governo militar ter implicado tanto com ele(e outros). Todos esses assuntos são abordados sob o viés da superficialidade ou da informação rápida.

O texto está todo centrado no descrever os 9 relacionamentos reconhecidos(e mais as incontáveis amantes) do poeta e compositor. Temos então um dramalhão rocambolesco, cheio de flash-backs, onde as informações sobre um poeta superior ficam quase ocultas, em detrimento de informações risíveis sobre sua devoção ao uísque, ao bom-vivantismo poético e às mulheres. Por um insondável caminho não justificado, comenta, ainda que de maneira simplória, mais da bossa-nova(essa música que melhor explica o Brasil para o resto do mundo), do que de suas criações poéticas. Ainda assim, no quesito musical consegue omitir nomes importantes, como João Gilberto e Nara Leão, mas acaba por fazer uma apanhado tímido do gênero musical, pelo menos para os ainda não iniciados. Ao poeta Vinícius de Moraes, contudo, é negada uma investigação mais afortunada. Do diplomata, pouco sabemos; do pai, necas; do aficcionado por cinema, lhufas.

Ao navegante desinformado, que pouco ou nada conhece de Vinícius, porém, a obra encerra a idéia de uma introdução sumária e condensada. Por isso mesmo, tem seu mérito. Pois o Poetinha(como gostava de ser tratado), sendo um sonetista peculiar, um lírico nato, um compositor original e libertador de amarras na música popular brasileira, e – sim, reconheçamos – um dândi carioca dado a flanar entre as mulheres, e que, vivendo 67 anos, parece ter existido o dobro do tempo, de tanto que criou, produziu, viveu – e, claro! – namorou; ainda assim nos surpreendemos com alguns que, mesmo repetindo versos seus a granel, não conhecem a sua obra.

Por esse motivo exclusivíssimo, a obra acaba por adquirir ares de importância que – frisemos novamente – NÃO TEM!; mas pode despertar em algum incauto uma vontadezinha de conhecer melhor nosso Poetinha maior.

*(Pesquisa de Nazareno Paulo -

Revisão de Hassan Ayoub e Renato Wagner Bacci

ISBN 85-368-526-3

1999, 96 p., Editora Três)