Dançando no Escuro

Eu não sou muito fã da Björk como cantora, apesar de escutar principalmente músicas indies. Acho suas músicas experimentais demais para o meu gosto pessoal, mas como atriz em 'Dançando no Escuro', ela está soberba.

 

O polêmico Lars von Trier é o idealizador dessa película. Exceto por alguns filmes nos quais ele exagerou, sua filmografia me agrada bastante. Tentei assistir esse filme nos cinemas quando foi exibido na Reserva Cultural, mas, para meu azar, quando cheguei, os ingressos já tinham sido esgotados.

 

A história de Dançando no Escuro segue Selma, interpretada por Björk, uma imigrante tcheca nos Estados Unidos, que enfrenta a perda gradual de sua visão devido a uma condição genética.

 

Selma, uma operária fabril, encontra consolo em sua paixão por musicais, imaginando coreografias que tornam sua realidade mais suportável. No entanto, sua vida toma um rumo trágico quando ela é confrontada com uma situação desesperadora e, para proteger seu filho de um destino similar, toma decisões extremas.

 

Ela trabalha na fábrica como se fosse uma condenada para economizar dinheiro para a operação que impedirá seu filho de perder a visão. Tem a sorte de contar com Kathy, interpretada por Catherine Deneuve, uma amiga exemplar que a ajuda nas tarefas diárias na fábrica, a acompanha no cinema para ver os musicais que ela tanto gosta, e auxilia-a em seu curso de teatro quando estava perdendo a visão. Porém, com a perda da visão, ela tem que recusar o papel principal no musical, e sua produtividade na fábrica cai vertiginosamente. Certo dia, ela chega a quebrar uma máquina e, por causa disso, é dispensada pelo seu supervisor. Felizmente, ainda conta com o apoio de Jeff, seu quase namorado, que a ajuda dando carona e em outras situações. Os proprietários da casa em que ela é inquilina também são solidários, não reajustando o aluguel anualmente. O filme intercala momentos da trama com composições escritas e interpretadas pela própria Björk para o filme.

 

Quando retorna para casa, Selma depara-se com a caixa que guardava o dinheiro para a operação de seu filho totalmente vazia. Quem a viu guardando o dinheiro lá foi Bill, seu senhorio. Como ela não enxergava, não pôde notá-lo enquanto guardava o dinheiro. Quando Selma foi procurá-lo no trailer, sua mulher disse que ele contou para ela que Selma tentou seduzi-lo e, ele, como bom rapaz, recusou. Por isso, a mulher de Bill exige que ela se mude da casa.

 

Selma encontra Bill na parte de cima da casa, que explica que teve que mentir para sua mulher porque ela o viu entrando no trailer de Selma. Além disso, conta que foi ele que pegou o dinheiro dela para sua mulher pensar que ainda tinham dinheiro do banco, já que passavam por grave crise financeira. E sem isso, ela poderia abandoná-lo. No final, quando Selma tenta pegar o dinheiro, ele muda a versão para incriminar Selma, dizendo que, na verdade, ela estava roubando seu dinheiro. Ele pega o dinheiro dela com uma arma, mas na hora do embate, ele acaba alvejado por Selma. A mulher de Bill presencia a cena, e ele diz para ela buscar ajuda. Enquanto isso, Bill diz para Selma que, se quiser o dinheiro de volta, terá que matá-lo. Desesperada, ela tenta acertá-lo com o revólver diversas vezes, mas, como é cega, não consegue. Por fim, resolve pegar um peso para dar na cabeça de Bill com algumas pancadas, resultando em seu falecimento.

 

Com a ajuda de Jeff, que a encontra tempos depois, ela consegue sair do local do atentado antes da polícia chegar. Sozinha, ela se encaminha para enfim pagar a operação do filho. No caminho, tenta ocultar as evidências do seu crime. É desesperador ver uma quase cega tentar esconder as provas. No entanto, chega até o Dr. e paga a operação do filho. Selma encontra Jeff de novo, e os dois vão até o curso de teatro dela. Lá, atrasam Selma até a polícia chegar e levam-na em cana.

 

O filme corta já para o julgamento de Selma. Ela não tem a mínima chance. O advogado de acusação inverte tudo, como se ela fosse egoísta, que roubou o dinheiro de Bill porque ela era comunista contra os EUA. Alegam, inclusive, que ele deu uma bicicleta para o filho de Selma.

 

Ela também não se ajuda ao não se defender, não dizendo que o dinheiro era para pagar a operação do filho, e mantém-se afirmando que a grana era para o pai dela, inexistente. Descobrem que o nome que ela falava que era do pai era, na verdade, de um diretor de musicais da Tchecoslováquia. O júri acaba condenando-a à morte.

 

Selma aguarda por seus últimos dias na prisão. Sua amiga Kathy e Jeff arrumam outro advogado para ela, que promete reverter o julgamento com as provas que possui, alegando que ela agiu em legítima defesa em prol do filho. No entanto, , o preço do honorário do advogado é o mesmo valor da operação do filho. Era com esse dinheiro que seus amigos iriam pagar. Selma recusa a ajuda. O dilema é o filho dela ter uma mãe viva, mas ficar cego como ela, ou ela morrer e seu filho conseguir enxergar. Ela escolhe a visão do filho. A última cena do filme é Selma sendo levada para o cadafalso, e a execução acontece.

 

Agora, para fazer um comentário pessoal, achei esse talvez o melhor filme de Lars von Trier. Esse tema da perda de visão me é bastante caro. Quando eu era mais jovem, tive suspeita de glaucoma e poderia ficar cego se não tratasse. Tinha que fazer diversos exames para tirar a pressão do olho e afins. Felizmente, passei com um especialista que disse que eu não tinha nada, que a concavidade que eu tinha no olho era natural da minha raça, ou seja, típica de pessoas moreninhas, como eu (o médico era japonês). Depois disso, essa questão foi esquecida. Mas eu nem sei se o especialista realmente estava com a razão, pois não passei por nenhum médico depois disso. Parto do princípio de que ele estava certo e eu não tenho nada. De todo modo, tive esse diagnóstico. A visão tem a ver com as coisas que mais gosto de fazer na face da terra, assim como Selma, que adorava dançar e ver musicais. "Dançando no Escuro" inverte nossas expectativas, pois os musicais normalmente são filmes felizes. Até Selma diz que gosta deles porque neles nada de ruim acontece.

O choro no final do filme de Selma é o choro da injustiça nessa película visceral que saiu da mente de Lars von Trier, que ora é genial e ora só meio maluco mesmo.

Dave Le Dave II
Enviado por Dave Le Dave II em 20/01/2024
Reeditado em 20/01/2024
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