Van Gogh (1991) de Maurice Pialat.

Esse é possivelmente o filme mais artisticamente simples que eu já resenhei nesse espaço literário. Tenho como costume só escrever sobre filmes facilmente encontrados no streaming, para que quem for me ler (duas pessoas) possa achá-los para ver, mas não é o caso de “Van Gogh” de Maurice Pialat, de 1991. É um filme raro e difícil de achar. Ele está entre os 100 melhores filmes da história do cinema, segundo a revista francesa Cahiers du Cinéma.

 

O filme conta, de forma muito simples e sem grandes arroubos retóricos, a história conturbada de Vincent van Gogh, pintor holandês. Aborda seus problemas de saúde, idiossincrasias, excentricidades e sua relação de dependência e desentendimento com seu irmão, Theo van Gogh, um mercador de obras de arte que negociava os quadros de Vincent. O filme não narra todos os episódios da vida dele, apenas de maneira passageira, como o caso da automutilação da orelha. A película falha também ao não mostrar o ator que faz Van Gogh com a orelha cortada, isso eu não entendi.

 

A película tem uma cadência narrativa bem lenta e mostra alguns acontecimentos da vida de Vincent de maneira bem simples. Van Gogh levava uma vida de ostracismo antes de ser reconhecido. Morava num pequeno quarto na província da França e consultava-se acerca de seus problemas de saúde com um médico local, o Dr. Gachet, que era um amante das artes, pintava de modo amador e era um dos poucos que reconhecia o talento de Van Gogh. Sua arte não rendia muito dinheiro; ele era sustentado praticamente por seu irmão. Tinha que fazer retratos de pessoas comuns e estranhas para sobreviver.

 

O filme também mostra o amor e o envolvimento que a filha do Dr. Gachet, uma menor de idade madura e falastrona, tinha pelo pintor holandês. Mas Van Gogh era incapaz de retribuir esse amor. Apenas se envolvia com ela por interesses sexuais, assim como procurava as prostitutas.

 

O filme não segue a linha de um retrato biográfico convencional; muito pelo contrário, ele nos conduz de forma sutil à angústia existencial de Van Gogh, redimida exclusivamente pela sua criação artística. O filme mergulha nas lutas psicológicas de Van Gogh, explorando seus relacionamentos e seu comprometimento com a arte.

A opção de Pialat é por um realismo cru ao retratar a vida do artista. Em vários momentos é mencionado o fato de ele ser louco, ter claros problemas psicológicos, mas quem assiste ao filme tem a impressão de que ele tem suas manias, mas está longe de ter problemas psiquiátricos, contrastando com sua própria biografia. Ele passou em vários hospitais psiquiátricos, mas no filme ficamos convencidos de que ele era bem lúcido. O filme narra desde a sua chegada ao consultório do Dr. Gachet para tratar suas crises de forte dor de cabeça até o episódio fatídico do seu suicídio fracassado, que resultou em sua morte dias depois, com apenas 37 anos de idade.

 

Ao mergulhar nas relações tumultuadas e no comprometimento visceral com a arte, o filme proporciona uma visão envolvente da existência de Vincent van Gogh, destacando sua genialidade em meio às complexidades de sua jornada.

 

Dave Le Dave II
Enviado por Dave Le Dave II em 09/01/2024
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