A Forma da Água

Eu estava ansioso para escrever sobre esse filme. Bom, nem tanto assim, já que comecei a vê-lo em 2017, ano de seu lançamento, e só fui assisti-lo novamente até o fim ontem. Primeiro, devo dizer que sou grande fã de Guilhermo del Toro, mais propriamente, do “Labirinto do Fauno”, filme muito bonito que parece ser uma mistura de fábula e contos de fadas. Além disso, Del Toro é um grande fã de videogames; uma das personagens de “A Forma da Água” chama-se Zelda, muito provavelmente em homenagem ao jogo da Nintendo. Além disso, ele é um grande colaborador de Hideo Kojima, um dos designers de games mais prestigiados de todos os tempos.

Mas, elogios à parte, “A Forma da Água” é um tremendo abacaxi!

 

A história se passa em 1962, num laboratório militar americano, onde Elisa Esposito trabalha como faxineira no turno da madrugada. Em uma sala ultramegasecreta do lugar (a que a faxineira tem acesso ilimitado, claro), ela descobre uma criatura marinha, meio homem, meio peixe, que foi trazida de um país sul-americano e está sendo estudada pelos militares.

 

Todos os personagens são estereotipados: Elisa é uma órfã muda e infeliz, que sapateia no corredor do prédio sonhando com uma vida melhor, vê filmes velhos na TV de um ilustrador gay e melancólico e é amiga de outra faxineira, uma afrodescendente engraçada e orgulhosa. O malvadão da história é um coronel linha dura, um boçal misógino e racista, que espanca a pobre criaturinha aquática sem piedade.

 

Claro que Elisa e o homem-baiacu passam a se comunicar por sinais (sabe como é, mudos devem ter uma sensibilidade maior para interagir com peixes), e acabam se apaixonando. Elisa arma um plano, saído de algum roteiro de "As Aventuras de Poliana", para salvar o namorado e devolvê-lo ao mar, bem ao estilo "Free Willy".

 

O filme é um aglomerado de clichês ambulante, parece ter saído de um manual de cinema dos anos 50. É um exercício supostamente lúdico e imaginativo que exige do espectador uma ingenuidade que nem todo mundo tem estômago para exercitar. Dá para entender por que ganhou o Oscar de melhor filme de 2018. Ele apela a uma noção antiquada de “bom cinema”, com personagens claramente delineados, história edificante e lições de moral aos borbotões.

 

No entanto, o filme de Del Toro não é nostálgico; é velho, mofado e ultrapassado, com personagens, diálogos, roteiro, direção e atuações caricatas e exageradas, principalmente da protagonista muda. Para não falar que eu só critiquei, o ponto positivo é a bela fotografia e identidade visual do filme.

 

Claro que Del Toro vai alegar que fez uma alegoria aos nossos tempos conturbados: seu homem-peixe é um símbolo do desconhecido, e seu romance com uma humana mostra que todos merecem respeito e afeto, até mesmo seres com guelras e escamas.

 

Dave Le Dave II
Enviado por Dave Le Dave II em 08/01/2024
Reeditado em 08/01/2024
Código do texto: T7971898
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