Curiosa: um drama erótico.

Esse filme me deixou muito triste. Quando um filme tem a capacidade de mostrar a distância entre nossa vida real e a arte, ele causa esse efeito. “Curiosa” é um drama erótico. E aqui um parêntese: é mais difícil fazer um filme erótico que se passa antigamente, creio eu, devido às roupas pouco sensuais, na minha opinião, e à depilação (ou à falta dela) à antiga.

Também não é fácil fazer um drama erótico de qualidade, como o caso de Bertolucci, que fez um filme lindo com “Os Sonhadores”, mas também um abominável como “O Último Tango em Paris”, manchando a imagem de dois dos meus atores prediletos, Marlon Brando e Jean-Pierre Léaud.

Mas voltando a “Curiosa”, ele retrata a vida da bela Marie na Paris do século 19, condenada a casar com Henri, um homem que ela não ama e com quem tem pouca afinidade, tudo para salvar as dívidas de seu pai. Embora o marido arranjado seja um poeta renomado, é por um fotógrafo, o charmoso Pierre, que ela é realmente atraída.

Porém, ele não passa de um libertino que gosta de fotografar suas amantes em poses sensuais, para não falar ginecológicas, e escrever um relato sobre cada relação em um diário. Ele é um cafajeste que não ama nenhuma das mulheres com quem se relaciona. Marie, mesmo assim, se submete a todos os desejos dele, inclusive ao fato de ele ser polígamo. O local para os encontros amorosos e sessões fotográficas deles também era uma espelunca, repugnante.

Como se não bastasse, ele trouxe da Argélia uma mulher da vida com quem ele se orgulhava de compartilhar com seus amigos e que satisfazia todos os desejos dele. Louca de amor por Pierre, Marie relevava tudo isso.

E aqui surge a pergunta: será que as mulheres preferem os cafajestes ou se submetem a eles por amor? Seriam eles mais sedutores do que alguém mais sentimental? Bom… eu não sei. A maioria das coisas eu aprendi nos livros e filmes, não por experiência própria. Acredito que isso varia de mulher para mulher. De todo modo, Pierre diz a Marie que com ele ela irá aprender o significado do prazer, e ela se deixa fotografar nas posições mais inimagináveis e sem pudor possíveis.

O filme choca ao ser baseado nas correspondências e no acervo real trocado entre Pierre e Marie. Ao longo do filme, o marido de Marie aceita passivamente compartilhar sua mulher com seu amigo, ela acaba engravidando, dando o nome do filho inclusive de Pierre, provavelmente o verdadeiro pai da criança.

Uma solução que Marie toma para ficar com Pierre é fazê-lo se casar com uma moça cujos pais são falidos e aceitaria a presença dela como amante, até mesmo sendo fotografadas por ele.

O final do filme é trágico para Pierre, que perde a visão, mas diz que todos os momentos permanecerão guardados em sua memória.

O filme aborda assuntos polêmicos, a liberalidade entre dois amantes. O que me marcou foi o belo figurino, mas a história poderia ser melhor explorada sem tanto sensacionalismo. No geral, é um filme razoável, que suscitou pelo menos essas dúvidas que coloquei neste texto.

Dave Le Dave II
Enviado por Dave Le Dave II em 28/12/2023
Reeditado em 02/01/2024
Código do texto: T7963499
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