"RASTROS DE UM SEQUESTRO" - NETFLIX

Para explicar, farei como Jack, o Estripador, "vamos por partes".

O filme inicia-se sinalizando como clássico roteiro de filme de terror.

Uma família, composta pelo pai, mãe e dois filhos, muda-se para uma casa mais ou menos sombria, localizada numa colina, nos arredores de Seul.

O antigo morador deixou um quarto trancado, onde guarda "coisas que buscará mais tarde", no qual ninguém pode entrar.

Na casa não há calendários e nem espelhos...

O condutor da história é o filho mais jovem, Jin-Seok (Kang Ha-Neul).

O irmão mais velho Yoo-Seok, (representado por Kim Moo-Yul ) é seu ídolo e um exemplo para todos; também sofreu um acidente de trânsito que o deixou mancando de uma das pernas..

Jim-seok não é brilhante como o irmão, estuda muito e toma remédio "ansiolítico".

Tem pesadelos e ouve barulhos vindo do quarto fechado.

Nesta fase o filme nos remete ao clássico japonês "O Grito", de Takashi Shimizu.

Uma noite os irmãos saem para "passear na chuva"...

É quando o irmão mais velho é sequestrado.

Ele retornará depois de dezenove dias e não recordará do que aconteceu.

O mais jovem começa a reparar que o irmão voltou diferente.

Uma hora manca da perna esquerda, em outra com a perna direita e as vezes não manca...

Ele suspeita que, apesar da incrível semelhança, não é seu irmão quem retornou do sequestro.

Doravante o filme tomará rumos de clássico filme policial, como "Busca Implacável", de Luc Besson e Pierre Morel.

Uma noite ele segue o irmão e há uma bela sequência de perseguição num labirinto de pequenas lojas fechadas de fachadas semelhantes.

Uma metáfora da situação do jovem narrador que luta compreender a situação na qual vive, de que apesar de tudo ser igual, tudo lhe parece diferente.

Na sequência, na delegacia, ele verá um calendário e um espelho.

O que ocasiona uma reviravolta e assume rumos de triller psicológico, à maneira da "A ilha do medo", de Martin Scorsese.

Contudo as sequencia dos fatos narrados nos remeterá a fita "Pacto Sinistro", de Alfred Hitchicock.

A moeda de troca da negociação é definida numa frase dita por um personagem: "Seu desespero e angústia é a oportunidade para o meu negócio".

Mas a comprovar que "num planejamento, nada ocorrerá como planejado", o enredo nos remeterá a "Fargo" (Irmãos Cohen), a ensinar que "tudo que começa mal, terminará ainda pior".

Nessa era de "aldeia global", a Netflix oferece ao mundo a oportunidade de compreender que os países e culturas diferentes aprenderam muito com o cinema americano, e agora tomam-lhe a dianteira.

O roteiro é primoroso e a todo instante instiga a curiosidade, oferecendo muitos mistérios, como se o diretor (Jang Hang Jun) convocasse o espectador a participar na construção da história e indagasse ao público: "O que você quer de mim?", como fez James Stewart em "Janela Indiscreta" (Hitchcock), endereçando a pergunta à platéia do cinema.

Ou o cinema americano se reinventa, ou o público cada vez mais vai querer ver filmes indianos, argentinos, japoneses, etc.; ou sul coreanos iguais a este.

Menção especial ao ator Kim Moo-Yul, que representa o irmão mais velho.

É excelente sua interpretação, a alternar-se ora em homem bom, ora em homem ruim.

Fique tranquilo,

no fim todos os mistérios serão explicados.

E o desfecho será bruto.

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Baguaçu-SP, abril/2015 + 5

Obrigado pela leitura.

Sajob