"Green mansions" ou "A flor que não morreu"

“GREEN MANSIONS” OU “A FLOR QUE NÃO MORREU”
Miguel Carqueija



Talvez seja “A flor que não morreu” (um dos raros casos de título colocado no Brasil melhor que o original) o filme da vida de Audrey Hepburn, graciosa e simpática atriz norte-americana de grande popularidade em sua época. Adaptação de uma novela de William Henry Hudson traz Audrey na pele da misteriosa Rima, a moça da selva, que vive isolada em alguma região da Amazônia, em companhia do avô Nuflo (Lee J. Cobb). Um cão acompanha o velho e uma corça a jovem.
A presença de ambos nesse local isolado da civilização e nas proximidades de uma tribo perigosa é cercada de mistérios. Nuflo, conformado com o miserável “status quo” em que vivem, esconde da garota a razão de estarem ali. Mas a situação deverá mudar com a chegada de um estranho: Abel (Anthony Perkins), jovem fugitivo perseguido pelo governo venezuelano, e que busca recursos para retornar e liderar uma revolução. Para Abel isso poderá ser obtido com a descoberta de ouro, embora a ingenuidade dessa idéia nos pareça bem clara. Só encontrar ouro não o faria rico e poderoso e pelo contrário, colocaria sua vida em grave perigo.
Deixando de lado essa racionalização, é fácil reconhecer a beleza visual desta película realizada pela Metro em 1959: as cores e cenários são deslumbrantes. Logo na abertura, uma imensa cachoeira selvagem.
Abel, que consegue ser aceito como hóspede numa tribo indígena, e se afasta para a região tabu, de início é um jovem corajoso porém obstinado na sua determinação de se vingar dos inimigos políticos; com o tempo porém esta sua raiva será substituída pelo amor para com Rima, a jovem de cabelos negros soltos, vestido branco, pés desnudos e rosto fascinante, que caminha na selva em total comunhão com a natureza, que não come carne e reproduz os sons dos pássaros. O fator trágico está em que ela é odiada pelos índios, que a têm como um ser demoníaco mas por medo não se aproximam de seu reduto. Isso e o passado misterioso, as razões que levaram Nuflo a se refugiar na selva, levando a menina então com quatro anos e que realmente não é sua neta, compõe o drama.
Numa das andanças pela verdejante floresta Rima mostra a Abel uma grande flor branca. Essa é uma das passagens de maior poesia da história. Segundo a moça aquela flor era diferente: ela desabrochava e, há noite, não era mais encontrada: mas ela não morria, se desaparecesse poderia ser encontrada viva, nas proximidades. “Se a flor morrer não fique triste pois ela tornará a aparecer em outro lugar, não muito longe”, esta a estranha mensagem que Rima diz a Abel e que será lembrada no dramático e misterioso desfecho.
Um filme altamente romântico e de grande nobreza, muito recomendável. Ficam algumas pontas soltas, mas vale muito a pena assistir.

GREEN MANSIONS (Mansões verdes) – EUA, Metro, 1959.
Produção: Edmund Grainger.
Direção: Mel Ferrer (marido de Audrey Hepburn)
Roteiro: Dorothy Kingsley, com base em novela de William Henry Hudson.
Música: Heitor Villa-Lobos, Bronislau Kaper e Paul Francis Webster.
Fotografia: Joseph Ruttenberg, A.S.C.
Elenco:
Rima.............................................Audrey Hepburn
Abel..............................................Anthony Perkins
Nuflo.............................................Lee J. Cobb
Kua-Ko..........................................Henry Silva
Runi...............................................Nehemiah Persoff