O menino selvagem - Ensaio sobre a cegueira - Náufrago

TRUFFU, François. O menino selvagem. França, 1798. SARAMAGO, José. Ensaio sobre a cegueira. Brasil, 2008. ZEMECKIS, Obert. Náufrago. EUA, 2008

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Na perspectiva de estar envolvido na sociedade e nesta manter relações e contribuir para com seu desenvolvimento, o homem é eminentemente um ser social e que, portanto, desta é dependente.

Não seria necessário atribuir vantagens e desvantagens de como a sociedade e o papel desta, é importante no processo de formação do homem. Este ser que desde o berço recebe influência, e no decorrer de sua vida, outrossim, parece deixar-se moldar por ela. Porém pode o homem viver fora dela? Perdido em uma floresta, ou em uma ilha, passando a conviver com outros seres, ou ainda retirado dela por imposição de outro?

Obras como “O menino selvagem”, “Ensaio sobre a cegueira”, e “Náufrago”, são exemplos de como fatos como estes são vivenciados – mostrando de fato o que a ausência do coletivo, da interação – enfim, da sociedade causa nas pessoas.

O papel da civilização está inteiramente ligado à formação da personalidade do homem; e quando esta não está inserida nele, o que o influenciará? O menino selvagem conta a história de um adolescente que, privado de educação por ter vivido afastado dos indivíduos da sua espécie, é encontrado em uma floresta vivendo em condições desumanas, pois este já não tinha hábitos humanos, andava com os pés e as mãos no chão, subia em árvores, comia raízes. Quando o menino selvagem é retirado da floresta, é feito com ele um processo de socialização – pois este atribuíra a sua personalidade, agentes biológicos e físicos do meio ao qual estava inserido. De início, não iria ser fácil socializá-lo, agora com quase 13 anos, o menino selvagem teve de passar por vários testes, a fim de aprender, embora lentamente, a falar, a andar, comer com colher, usar roupas, etc. Graças à educação e a cultura atribuída ou imposta ao menino selvagem – Victor fora aculturado e aos poucos se tomando por hábitos humanos.

O Náufrago retrata a vida de um homem contemporâneo em que seu cotidiano é corrido, pois trabalha demasiadamente, assim tem pouco tempo para a família e assuntos sentimentais. Vive em uma ilha por quatro anos, após um acidente de avião, ele fora o único sobrevivente. O personagem carrega com ele todos esses anos, uma fotografia de sua esposa e uma bola de vôlei, a qual dá o nome de Wilson. O personagem tenta adaptar-se aquele ambiente, o qual desconhece, no entanto, tenta desvendar todos os modos de sobreviver àquilo. Desde o fazer do fogo para aquecer-se, a glória de conseguir pegar um peixe, e até mesmo suportar as dores humanas naturais ou não. Como agiam nossos ancestrais, ele descobre a caverna e lá fez seu lar; de um modo surpreendente, não se deixa perder seus instintos e inteligência, passa a escrever e marcar nas pedras todos os meses que ali estivera; quanto ao isolamento, fez de uma bola sua companhia – sentia a necessidade de comunicação, e nela com seu próprio sangue pintou a face de um novo amigo. Após ser encontrado e resgatado, volta para o seu meio social de outrora. Ali, diferente da obra “O menino selvagem”, não houve conflito em sua volta a sociedade, já era adulto quando esteve sozinho, resta uma readaptação ao convívio social.

O ensaio sobre a cegueira, filme baseado na obra do escritor português, José Saramago, conta a trama de uma cidade que é acometida por uma epidemia sem nome, uma cegueira branca contagiosa. No decorrer da história toda a sociedade vai se dissolvendo, assim como os valores, a dignidade humana, os princípios morais – é percebível quando tais pessoas contagiadas são colocadas isoladas de tudo e de todos, em um local indigno de se viver. Todos ali são postos sem cuidados e sem previsão para pesquisar a cura. As pessoas ali voltam ao estágio inicial de suas vidas, onde terá que aprender a viver de outra maneira, adaptando-se a falta da visão, neste sentido é deixado de lado o individualismo, percebendo que diferente será o caminho que terão de seguir, na descoberta dolorosa do eu e do outro, do coletivismo.

Diante destas obras, e de sua relação com a Psicologia Social, é notável que o homem detém toda a história e o poder sobre as sociedades e de suas relações, influências ou contribuições, sejam estas boas ou não. Há quem diga e defenda que a sociedade molda o homem e que dela este depende. Mas até que ponto precisou dela, e por que nela não somos e agimos como iguais ou ainda, coletivos? Por que há o individualismo? Será preciso isolar-se da sociedade para reconhecer-se que precisamos um do outro, reconhecer a essência que há nisso tudo? Os valores morais estão sendo perdidos, o dedicar-se ao eu interior, a observação dos comportamentos próprios, o importar-se com a dignidade e o respeito pelo outro, são marcas que não devem ser deixadas, esquecidas ou ameaçadas.

Elisângela Feitosa
Enviado por Elisângela Feitosa em 08/02/2013
Código do texto: T4130639
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